Apertou um botão em sua mesa, aguardou um momento e disse:
- Pronto, professor. O bote está guardado e os alçapões estão fechados. O senhor certamente não receia que esses cavalheiros derrubem as muralhas que as balas da sua fragata não conseguiram penetrar.
- Não, capitão, mas existe ainda um perigo.
- Qual? A amanhã por esta hora, será preciso reabrir os alçapões para renovar o ar do “Nautilus”. Se nessa ocasião os papuas ainda estiverem na nossa plataforma, não vejo como os impedirá de entrarem a bordo. Como são algumas centenas.
- Pois bem, que entrem. Não vejo motivo algum para impedi-los. No fundo, esses papuas são uns pobres-diabos, e não desejo que a minha estada na ilha Gueboroar fique assinalada pela morte de algum desses infelizes. Amanhã - acrescentou ele, após uma pequena pausa - às duas horas e quarenta minutos da tarde, o “Nautilus” flutuará e deixará, sem qualquer avaria, o Estreito de Torres.
Ditas estas palavras, o Capitão Nemo inclinou-se ligeiramente, indicando que a nossa entrevista havia terminado.
No dia seguinte trabalhei em minhas anotações até as onze horas. Não percebi nenhum movimento a bordo que significasse qualquer preparação para uma partida na parte da tarde. Aguardei mais algum tempo e depois dirigi-me para o salão. O relógio marcava duas horas e meia.
Dentro de dez minutos a maré atingiria o máximo de sua altura e, se o Capitão Nemo não tivesse feito uma promessa vã, o “Nautilus” flutuaria imediatamente para partirmos.
Não tardei a perceber alguns estremecimentos de bom augúrio no casco do navio e ouvi rangerem as asperezas calcárias do fundo coralígeno nas chapas de ferro.