Às duas horas e trinta e cinco minutos, o Capitão Nemo apareceu no salão e disse-me:
- Vamos partir. Já dei ordens para que os alçapões sejam abertos.
- E os papuas? Não vão entrar no “Nautilus”, capitão?
- Sr. Aronnax - respondeu-me ele, tranquilamente - não se entra à vontade pelos alçapões do meu barco, mesmo quando estão abertos.
Olhei para ele, sem esconder a minha incredulidade.
- Venha comigo, professor, venha ver pessoalmente.
Acompanhei-o para a escada central onde Ned Land e Conselho, muito intrigados, observavam alguns homens da tripulação que abriam os alçapões, enquanto se ouviam no exterior os gritos ameaçadores dos papuas. Os postigos foram descidos exteriormente e apareceram vinte caras horríveis. Mas o primeiro indígena que pegou no corrimão da escada foi projetado para trás, eu não sabia por que força invisível, e pôs-se em fuga, dando gritos de terror e enormes saltos. Seguiram-se-lhe dez companheiros, que tiveram a mesma sorte.
Conselho estava extasiado. Ned Land, levado pelo seu instinto violento, precipitou-se para a escada. Assim que tocou no corrimão caiu também.
- Com mil diabos! Estou fulminado!
A exclamação do canadiano explicava tudo. Aquilo não era um corrimão comum, mas um cabo de metal carregado de eletricidade. Quem lhe tocasse receberia um choque que seria mortal, se o Capitão Nemo tivesse lançado nele uma corrente de maior potência.
Os papuas, apavorados, tinham-se retirado, enquanto nós ríamos e consolávamos o infeliz Ned Land, que continuava praguejando como um possesso. Sua ousadia fora bem castigada.
Logo depois, levantado pelas últimas ondas da maré cheia, o submarino deixava o leito de coral, exatamente na hora prevista pelo capitão. A hélice virava as águas com majestosa lentidão e a sua velocidade foi aumentando pouco a pouco. O “Nautilus”, navegando à superfície, deixou as perigosas paragens do Estreito de Torres, são e salvo.