Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 24: Capítulo 24 Pág. 98 / 258

Para qualquer outra pessoa que não sentisse o meu imenso amor pelo mar, as horas teriam certamente parecido longas e monótonas.

Mas os passeios quotidianos pela plataforma, onde me refazia com o ar vivificante do oceano, o espetáculo das águas através dos vidros do salão, a leitura dos livros da biblioteca e a redação das minhas memórias ocupavam-me o tempo todo, não me deixando um momento sequer de descanso ou mesmo de tédio.

No dia 24 pela manhã, avistamos a ilha Keeling, de origem madrepórica, ornada de magníficos coqueiros, que foi visitada por Darwin e pelo Capitão Fitz-Roy. O “Nautilus” passou a pouca distância dessa ilha deserta. As redes apanharam curiosas conchas em suas imediações. Em breve a ilha Keeling desaparecia no horizonte. Seguimos para noroeste, em direção ao extremo da península indiana.

- Terras de gente civilizada - disse-me Ned Land naquele dia. – São melhores do que as ilhas da Papuásia onde há mais selvagens do que cabritos. Na índia, professor, há estradas, estradas de ferro, cidades inglesas, francesas e hindus. Não se anda cinco milhas sem se encontrar um compatriota. Não será ocasião de abandonarmos as delicadezas com o Capitão Nemo?

- Não, Ned - respondi-lhe num tom resoluto. - Deixemos correr, como dizem os marinheiros. O “Nautilus” está se aproximando de continentes habitados e talvez tome o rumo da Europa. Uma vez chegados aos nossos mares, veremos o que a prudência nos aconselha a fazer. Aliás, acho que o Capitão Nemo não nos autorizará a ir caçar nas costas de Malabar ou de Choromândel, como nas florestas da Nova Guiné.

- E não podemos ir sem a autorização dele?

Não respondi ao canadiano, porque não queria discutir.





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