O honrado chefe da casa Whitestone tinha dois filhos: uma gentil lady, mimosa planta do Norte transplantada, aos dois anos, para o nosso clima, e um rapaz, mais novo do que ela, e nascido já em Portugal.
Eram Jenny e Carlos.
Jenny era uma destas jovens inglesas cuja suavidade e correcção de contornos, alvura e delicadeza de tez e puro dourado dos cabelos lhes dão uma aparência tão subtil e vaporosa, e, quase direi, tão celestial, que se espera a cada passo vê-las desprenderem-se da terra e dissiparem-se, como instantânea visão luminosa, diante dos olhos, que por momentos ofuscaram.
Delicadas, como arminho, que chega quase a subtrair-se à sensação do tacto, de delicado que é, estas poéticas organizações setentrionais possuem tanto de vago, tanto de material, que, junto delas, apodera-se de nós, entes profanos e grosseiros, certo invencível constrangimento, como se receássemos com um sopro desvanecê-las, crestá-las com um olhar, maltratá-las com um gesto.
Os desejos não voam até ali; rodeia-as uma atmosfera de virginal castidade, no seio da qual esses filhos alados da imaginação abatem-se asfixiados.
Belezas, como ela, foram por certo as que inspiraram as imagens de virgens dos cantos de Ossian ao espírito de quem quer que foi seu autor, daquelas virgens que o bardo comparava à neve da planície e cujos cabelos imitavam vapor do Cromla, dourado pelos raios do ocidente.
Se no azul meigo dos olhos de Jenny se não concentrava o fogo das paixões de um coração ardido, nem se descobria a cintilação denunciadora de fantasias exaltadas, havia nele não sei que misteriosa e suave luz, como se de reflexo levado para ali do mais íntimo de alma; os lábios, delgados e levemente