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Capítulo 2: II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo

Página 12
compridos, não se agitavam sob o império de tumultuosos sentimentos, mas fixavam-se em contínuo sorriso, expressivo de afabilidade e de brandura, prometedor de plácidas mas duradouras felicidades; o seio, sempre modestamente afogado no vestido liso e singelo, embora não tivesse o arfar voluptuoso que arrebata as imaginações, animava-se da ligeira ondulação, denunciadora do sereno sentir da mulher, a quem Deus confia os destinos da família; desses simpáticos vultos de mãe, de irmã e de esposa, por todos encontrados ou sonhados ao menos uma vez na vida, astros inacessíveis às violentas tempestades, que tantas vezes ameaçam o horizonte doméstico, anjos pacificadores entre os seus, que com todos repartem carinhos e afagos, que com lágrimas e sorrisos a todos consolam e recompensam; se, vendo Jenny, podia lembrar o amor, era o amor da mulher sempre casta que, ao estender a fronte cândida aos beijos afectuosos do esposo, baixa ainda os olhos, corando com todo o pejo de uma primeira entrevista, e fita-os no berço do filho adormecido sob a vigilância dos seus cuidados.

A estatura esbelta da jovem inglesa, o andar, sem os requebros lânguidos das nossas elegantes, a fronte pura e de gracioso modelo, coroada por um diadema de formosos e desadornados cabelos louros, o olhar entre afável e melancólico, a voz meigamente sonora e cadenciada, tudo enfim, de modo inexplicável, como variadas frases de misteriosa linguagem da beleza, denunciava os encantos, as doçuras daquele carácter feminino, tão alheio a fraquezas mundanas, que mais se dissera angélico.

Sentia-se, vendo-a, que para ela nunca o amor seria um passatempo, um capricho apenas, gozado entre risos, terminado sem lágrimas. Talvez nunca tão violenta paixão a chegasse a dominar até; porém, se nascesse, seria como essas plantas que mal se desentranham em galas de folhagem e de flores, mas que se prendem por tenazes e penetrantes raízes ao solo de onde brotaram.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 12

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432