Às quatro horas da tarde, deste mesmo dia, voltava Mr. Richard Whitestone a casa, com aquele ar de satisfação inglesa que já lhe conhecemos, e em passo vagaroso, como de homem que terminou as tarefas sérias e principiou a gozar as doçuras do não fazer nada. Parte da manhã passara-a com um compatriota, pai de uma nevada e loura lady, a quem de facto Mr. Richard estimaria ver matrimonialmente ligado o filho.
Como nestas intenções do discreto inglês conseguira entrar a despenseira, não sabemos nós; mas é certo que, ou por força de lógica, ou por oculta inspiração, havia ela acertado ao informar a Sr.a Josefinha da Água-Benta. Conquanto o não ter sido acompanhado pelo filho naquela visita matinal houvesse algum tanto desagradado ao inglês, consolava-se esperando que ele condescenderia em o acompanhar à noite na segunda visita que tencionava fazer.
Ia pensando nisto o velho comerciante, precedido da ligeira Butterfly, impaciente com a morosidade do dono, que tão amiúde a obrigava a retroceder.
Trauteando por entre dentes o predilecto: cheer, boys, cheer, caminhava vagarosamente Mr. Richard pela Rua das Flores acima, e pascia a vista nas bem providas exposições de ouro que adornam um dos lados da rua, quando, de repente, parou defronte de uma tabuleta, como se impressionado por algum objecto que vira nela.
Por muito tempo durou este exame.
Havia ali o que quer que fosse que o inglês tomava a peito investigar. E não o conseguindo de fora do mostrador, entrou na loja.
– Faz favor de deixar-me ver um relógio que está aí exposto? – disse ele para o ourives.
O ourives, com sorriso amável e maneiras delicadas, satisfez-lhe prontamente ao pedido.
Mr. Richard examinou o relógio com minuciosa atenção.