Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 25: XXV - Tempestade doméstica

Página 291

– É um belo relógio! – dizia o ourives. – Valioso por todos os respeitos.

Mr. Richard fez um sinal afirmativo com a cabeça, e prosseguiu calado no exame.

– É inglês, não é verdade? – perguntou daí a instantes.

– É, sim, senhor. De fabricantes muito acreditados.

– E então… mandou-o vir directamente da Inglaterra?

– Não, senhor…

O ourives principiou a olhar para Mr. Richard com mais cuidado. O que estava pensando, ao olhá-lo assim, não sei; mas uma sombra de desconfiança parecia anuviar-lhe o semblante. Passados alguns instantes continuou:

– Para falar com franqueza a V. S.a, ainda não há muitas horas que o comprei.

– Ah! E… pode saber-se a quem?…

– Comprei-o a um rapaz, que eu conheço de vista, mas cujo nome ignoro… Suponho que é também inglês… Vinha num carro com uma senhora…

Mr. Richard abriu muito os olhos, fitando o ourives, e repetiu:

– Com uma senhora?…

– Sim, uma senhora ainda nova, vestida de preto, que ficou à espera dele. O rapaz entrou aqui, disse que estava para ir para fora da terra, e propôs-me a compra do relógio e da corrente… Entrámos em ajuste…

– Bem, bem; pouco me importa isso – disse Mr. Richard, com ligeiras e convulsivas contracções de lábios, que eram nele indício de cólera reprimida. – Vamos a saber: por quanto mo vende agora?

O ourives fez valer os seus direitos a algum módico lucro, direitos que Mr. Richard não lhe contestou, vindo afinal a comprar, pela segunda vez, o relógio e a corrente com que havia já presenteado o filho.

Porque não havia para ele dúvida, e escusa de a haver para o leitor, de que eram exactamente aqueles mesmos os objectos que tinha agora presentes.

Ao sair da loja, Mr. Richard ia com a fisionomia outra vez serena, mas lá por dentro, quem o pudesse perscrutar, encontraria um grau de irritação a que raras vezes lhe subia o génio fleumático.

<< Página Anterior

pág. 291 (Capítulo 25)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 291

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432