Uma Família Inglesa - Cap. 29: XXIX - Os amigos de Carlos Pág. 341 / 432

– Vê lá se preferes que a procuremos.

– Querem obrigar-me a ser incivil, mandando-os sair?

– Incivil estás tu sendo já.

– E tu a fazeres drama, Carlos! Desconheço-te.

– Está decidido – disse o louro adamado – o homem reage. O remédio é fácil. Procuremo-la. Ele por certo que a não confiou à família para guardar. Deve estar escondida aqui.

– Batamos a mata. A gazela há-de aparecer.

E num instante principiou desordenada pesquisa em todo o aposento. Não houve móvel nem esconderijo que não fosse revistado.

– E na biblioteca? – disse por fim uma voz.

– É verdade! Na biblioteca! – repetiram os outros.

E todos caminharam para lá.

Carlos tremeu por Cecília.

– Proíbo-lhes que abram essa porta! – exclamou, com voz perturbada.

– Bravo! Acertámos! Ouvem-no?

– Ah! diavolo! Está fechada por dentro.

Carlos respirou.

– É a primeira vez que me lembra achá-la assim. Mistério! Deixa ver se pela fechadura…

– Carlos, abre ou manda abrir esta porta.

– Escutem. Há rumor lá dentro.

– Deixa ouvir.

– É ela.

O que espreitava continuou:

– Parece-me que vi agora o vestido de uma mulher.

– Ah!

– Foi ler Paulo e Virgínia. Conselho de Carlos, que está dado a leituras brandas.

– Ah! ah! ah!

– Psiu! Calai-vos.

Carlos levantou-se desesperado.

– É de mais! Exijo-lhes que saiam daqui.

– E eu exijo silêncio. Alguém se aproxima. É ela! Incessu patuit dea… É mais razoável do que tu; veio às boas.

Carlos lembrou-se da anterior tentativa de Cecília e receou que se renovasse.

Agora já ele não podia impedir os passos. Perdeu com esta ideia toda a força moral; sentiu-se desalentado.

A chave girou na fechadura.

– Desbarretem-se, meus senhores. Ei-la enfim! – disse um dos do rancho.

Carlos fechou os olhos, como se na presença de perigo iminente; a mão apertava-se-lhe convulsivamente sobre a caixa de revólveres que tinha perto de si.





Os capítulos deste livro