Em vez, porém, do tumulto que esperava ouvir, e que Deus sabe a que excesso o arrastaria, seguiu-se tão profundo silêncio, que o obrigou a erguer a cabeça surpreendido.
Todos os rapazes, havia pouco ainda tão turbulentos, recuavam agora calados e descobertos e como procurando ocultar-se uns com os outros.
No limiar da porta que se abrira, aparecia a figura cândida e serena de Jenny, com o braço passado pela cinta de Cecília, a cuja cabeça, suavemente animada por um sorriso de melancolia, sustentado a custo, servia o seu ombro de apoio.
Jenny conservou-se por algum tempo assim, olhando-os com gesto composto e admirado, que parecia subjugá-los.
Havia nesta cena um quadro que impressionava.
As feições angélicas da irmã de Carlos revelavam tanta doçura e tanta nobreza ao mesmo tempo, e as de Cecília tanta melancolia e também tanta confiança na amiga a que se amparava, que os mais levianos do bando curvaram respeitosamente a cabeça diante daquelas duas mulheres.
Só um olhar como o de Carlos, exercitado no estudo do rosto da irmã, podia notar-lhe nos lábios um leve tremor, a denunciar que àquela aparente placidez não correspondia uma completa serenidade de coração.
Era contudo afável e segura a voz com que ela se dirigiu aos amigos de Carlos.
– Peço desculpa de os ter feito esperar. Julgámos que meu irmão tinha já saído e viemos ambas procurar um livro.
E depois, mostrando-lhes Cecília:
– É minha amiga… ou mais do que amiga… é quase minha irmã. – E acrescentou, sorrindo para ela: – Cedo o será, não é verdade?
Cecília estremeceu e voltou para Jenny o olhar admirado. Ia talvez a falar.
Jenny reprimiu-a, apertando-lhe ocultamente a mão; e prosseguiu, sorrindo:
– Perdoe-me a indiscrição, Cecília; talvez até nem indiscrição fosse já porque… estes senhores são… os amigos de meu irmão Carlos.