Uma Família Inglesa - Cap. 32: XXXII - Os convivas de Mr. Richard Pág. 365 / 432

Adquirido o hábito do mal, até o mal, até a dor lhe é indispensável.

Mr. Richard ficou algum tempo calado, como a meditar sobre a lei do hábito enunciada pelo seu amigo.

Depois, perguntou:

– Não haverá meia hora na vida durante a qual Mr. Morlays veja este mundo com bons olhos?

– O defeito não está nos meus olhos, creia; mas no que a eles se apresenta de contínuo. Este é o pior dos mundos, acredite.

– Tristram Shandy – disse Mr. Richard, sorrindo – lamenta também não ter nascido na Lua ou em outro qualquer planeta, excepto Júpiter e Saturno, por causa de serem muito frios; por isso que, diz ele, em outro qualquer não lhe podiam ter corrido as coisas pior do que neste, o qual ele julga ter sido feito com os acréscimos e as aparas dos outros… Eh! eh! eh!… Mr. Morlays não hesitaria em dizer o mesmo; estou vendo.

– E por que havia de hesitar?

O criado, entrando outra vez, anunciou Mr. Brains.

– Oh! oh! – disse Mr. Richard – aí vem o antídoto contra a sua influência pessimista.

Este vê tudo azul-celeste! – notou Mr. Morlays, com sorriso de comiseração.

Ouviu-se no corredor uma voz cantando jovialmente:

God save Victoria!

Long live Victoria!

God save the Queen!

E Mr. Brains, inglês que reagia pertinazmente contra a sisuda etiqueta nacional, entrou com grande exibição de cumprimentos e de mesuras para a direita e para a esquerda, simulando atravessar por entre filas de personagens, que o saudavam, e ia dizendo:

– Mylords! myladies! gentlemen! sem incómodo! sem incómodo! – e chegando perto de Mr. Richard: – Bons-dias, lord Whitestone, bons-dias; folgo muito de vos ver tão bem-disposto. Oh! nosso leal súbdito, lord Morlays! – como vai o diabo preto que vos acompanha para toda a parte?

– Não tão bem-disposto como o diabo cor-de-rosa de Mr.





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