Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 19: XIX - Amor-próprio Pág. 109 / 174

Ângela sentiu-se transida de compaixão de seu pai, que ela tinha conhecido onze anos antes ainda vigoroso, posto que encanecido. Escreveu-lhe. De sua vida nada lhe contava. Oferecia-lhe o seu braço para amparo, os seus olhos para ver por eles, o seu coração de filha para urna das lágrimas espremidas pela saudade e memórias dos seus afetos de moço feliz, com todas as alegrias do mundo a cortejá-lo.

O general ouviu ler a carta ao seu mordomo, e disse:

- Cuidei que era morta... Morta está decerto...

E não respondeu.

Aquela carta redobrou-lhe o tormento da memória ao ancião. Maria d’Antas relampagueava-lhe amiúde diante dos olhos de alma; e ele circunvagava os do rosto para afastar a imagem formidável com a diversão de outras; mas... não via! Apenas tinha olhos para chorar.

- Por que não chama vossa excelência para si sua filha? - dizia-lhe um dia o mordomo, com a liberdade de quarenta anos de servo.

- E quem te disse que ela é minha filha?

O mordomo calava-se.

- Quem te disse que ela era minha filha? - insistia o general esbugalhando os olhos cinzentos e nublosos.

- Pensei, senhor...

- Parece-se comigo?

- Não, senhor, é o rosto de sua mãe.

- Muito parecido? Já me não recordo de Ângela...

- Tal qual. Quando aqui esteve, há sete anos, era como a fidalga d’Antas quando... morreu.

- Vai-te... deixa-me... - rugiu o cego, gesticulando vertiginosamente.





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