Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 15: XV - Meio milhão! Pág. 79 / 174

“Ó mano, eu sei lá o que há de acontecer!” dizia-lhe eu, e ele fez-me uma pena, que vossemecê não faz ideia, quando disse muito triste: “Oxalá que eu nunca visse esta criatura! Nunca me senti apaixonado cá do interior senão agora. Estou desta idade, e é a primeira vez que pegou em mim o amor verdadeiro! Sinto-me outro homem cá por dentro. E, se isto não muda de rumo, eu não hei de ir longe... Tu verás que esta paixão dá comigo na cova”. Sabe vossemecê? Peguei a esbaguar lágrimas como punhos...

Rita alimpou ao avental os olhos aguados, e prosseguiu, sensibilizada:

- “Ó meu Hermenegildo, disse-lhe eu, tem juízo! Tu não te deixes apaixonar por uma pessoa tão nobre! Verdade é que ela é pobre; mas tem pai muito rico, sem outra filha. E a demais: ela terá vinte anos, se tiver, e tu já vais nos quarenta e seis, porque eu sou mais velha que tu quatro, e faço os cinquenta pelas cerejas”. E vai ele levantou-se da cadeira, e saiu pelo quarto fora sem dizer palavra. Eu fiquei muito aflita, e fui-me ter onde a ele, e comecei a dizer-lhe que não perdesse a esperança, porque se tinham visto casos mais milagrosos. Não lhe digo nada, Sr.ª Vitorina; estive até à madrugada, e não pus olho, porque afinal meu irmão, de se afligir, começou a doer-lhe o fígado, e eu fui arranjar-lhe a cataplasma de linhaça. Assim que o vi descansadinho, fui rezar à minha Senhora dos Remédios, e fiz-lhe uma promessa que não digo, se ela, das duas uma, ou varresse da cabeça do meu irmão esta ideia, ou movesse a fidalga a casar com ele.

Vitorina ouviu sem tosquenejar a comovida mulher. A impressão da confidência não lhe era irrisória nem mesmo de grandes estranhezas. A criada, tanto ou quanto participante da luz do século XIX, já estava à altura da ideia democrática e niveladora quanto a nascimentos, ressalvada a profunda desigualdade quanto a “fortunas”.





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