Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 2: II - 1.600$000 Réis! Pág. 8 / 174

- Que vou mandar chamar sua senhora...

- Pois chame! - bradou ele. - Este negócio há de aclarar-se... Não se me importa a vergonha nem o diabo! Eu sou um homem de bem, Sr. Administrador!

- Quem o duvida?

- Ninhos atrás das orelhas não mos fazem!

- Com razão...

- O meu dinheiro quero saber que fim levou...

- Essas averiguações é que são delicadas, Sr. Fialho, - aconselhou a autoridade. - E parecia-me razoável e prudente que vossa senhoria as guardasse para o secreto da sua casa.

- Mas ela não o diz!

- Se o não diz a vossa senhoria, menos o dirá a mim ou ao juiz...

- Diz que deu um conto e seiscentos e cinquenta mil réis de esmolas! O senhor acredita isto?

- Acredito;... porque não? Se ela repartisse por todos os infelizes do Porto essa grande quantia, estou em que não chegaria um pinto a cada pobre.

- Mas então a criada que diga a quem levava as esmolas. Dá-me vossa senhoria licença que eu pergunte?

- Sim, senhor - respondeu o administrador, e, tangendo uma campainha, disse o oficial de diligencias:

- Essa mulher que entre aqui sozinha.

Entrou Vitorina.

- Responda ali a seu amo - disse a autoridade à presa.

Hermenegildo assoou-se, fez duas upas na cadeira, roçou no pavimento as espaciosas plantas, e rompeu neste interrogatório:

- Quem roubou os brilhantes?

- Fui eu, senhor.

- Mentes! Os brilhantes foi tua ama que tos mandou vender!

Vitorina estremeceu, fitou o administrador, e gaguejou palavras imperceptíveis.

- Foi sua ama que mandou vender os brilhantes? - interveio a autoridade.

- Não, senhor... Fui eu que os... furtei.

E as lágrimas derivavam-lhe pelas faces copiosamente.

“Esta mulher está inocente!” disse entre si o interrogador.

- Mentes, desavergonhada! - trovejou o Sr. Fialho, jogando com as catapultas dos braços à cara da criada.





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