Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 17: XVII - História dos brilhantes Pág. 92 / 174

- Jesus! Tu estás aí a asnear, homem de Deus! Pois uma senhora tão boa, tão rezadeira...

- Ora, contos, minha amiga; as que rezam muito lá sabem por que o fazem. Se elas não tem pecados, p’ra que rezam? Responde lá, se és capaz!

- Tu és herege, Hermenegildo!

- Qual herege! Sou felósefo, é o que eu sou.

E era.

Enquanto ele filosofava em linguagem correntia - mérito de que não se gabam muitos de seus confrades - lances extraordinários passavam na vida de Ângela.

Estava ela à janela em um Domingo de manhã quando viu subir da Praça Nova uma mulher de mantilha, que a fez estremecer vista de longe. Desceu de corrida ao primeiro-andar e abriu a janela a tempo que a mulher passava defronte. Duvidou, acreditou, hesitou, e enfim disse em voz alta à criada que a seguira assustada:

- Será Joana?!

A mulher, que passava, voltou o rosto rapidamente, deu de olhos em Ângela e estacou.

- É ela, é ela! - confirmou Vitorina.

- Suba Sr.ª Joana! - disse a senhora agitadamente, correndo a recebe-la no pátio.

- Ó minha senhora - exclamou Joana - Ó meu Deus! Pois eu encontro aqui a Sr.ª D. Ângela! Ainda torno a ver esta senhora!

Abraçaram-se enternecidas e subiram sem se desenlaçarem.

- Como ela está acabada! - disse Vitorina benzendo-se.

- Estou muito velha e muito doente... e vossa excelência ainda tão formosa, mas mais descoradinha!... Eu vim de Viana há três meses, perguntei por vossa excelência, e ninguém me soube dizer onde parava. E estava aqui! E eu sem o saber!

- Então tem tido muitas amarguras na sua vida? - perguntou Ângela com os olhos afogados em lágrimas muito fitos nela.

- Oh, se tenho, minha senhora! Há perto de quatro anos a vivermos dum trabalho pouco rendoso...

- A viverem... - atalhou Ângela.





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