O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 12: CAPÍTULO III Pág. 63 / 245

A verdade é que tenho ouvido distintamente há duas noites consecutivas um rumor insistente e prolongado semelhante aos estalidos que produz ao atear-se uma fogueira de carvão, e tenho aqui sobre uma banca um busto de Alan Kardec que, sem eu poder explicar como nem porquê, se move, sem que ninguém lhe toque, do centro da mesa em que o coloquei para uma das extremidades dela. O pó aglomerado em volta da base do busto, e que eu tenho o mais escrupuloso cuidado em não espanar nunca, vai deixando sucessivamente sobre a superfície da mesa o vestígio desse movimento vagaroso, lento, quase impercetível, mas progressivo e constante. Nesta porta ao pé da qual coloquei hoje a cama, ouço em cada noite, ora por duas, ora por três vezes, uma argolada perfeitamente clara e distinta. Abro imediatamente a porta (mudei a cama para este ponto a fim de poder faze-lo do modo mais rápido), fica sempre inexplicável para mim a razão porque se levanta a argola do ferrolho e bate de per si mesma na porta!

Todas estas coisas eram asseveradas pelo prussiano com a enfâse da sinceridade e da convicção mais profunda!

- E desta casa de cá, observei-lhe eu, que tem ouvido? o que sabe? que lhe consta?

- Eu digo-lhe…

- Sinceramente!

- Por mim pessoalmente nada tenho ouvido. O inquilino que me precedeu conta que ouvia no silêncio da noite um rumor confuso de vozes, o estalar de risadas e o telintar de dinheiro. Alguns vizinhos têm visto entrar vultos misteriosos. Tudo isto porém se explica do modo mais natural deste mundo.

- Qual é então o seu juízo, vejamos?

- É evidentemente…

- Diga! diga!

- Presumo eu, pelo menos…

- Vamos! sem rodeios, francamente!

- Das duas uma: ou uma loja maçónica, ou uma casa de jogo.

CAPÍTULO IV

As palavras do alemão acabavam de lançar no meu espírito a luz súbita de uma revelação que me obrigava a meditar.





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