– Nesse caso, recolho-me – disse Carlos, fechando a janela e vindo debruçar-se na escrivaninha de Manuel Quintino, o qual começara de novo a correspondência.
– Sim, senhor, Sr. Manuel Quintino – dizia Carlos, expelindo uma baforada de fumo, à qual o velho fez caretas –; você será parente do Quintino Durward de que fala o Walter Scott? Você sabe quem era o Walter Scott, Manuel Quintino?
– Eu não, senhor... – respondeu o velho, continuando a escrever.
– Walter Scott era um romancista. Sabe o que é ser romancista? Diga-me, já leu algum romance?
– Não, senhor, que tenho mais que fazer.
– Pois deixe estar que lhe hei-de emprestar romances para ler…
– Muito agradecido.
– O primeiro há-de ser O Cavaleiro de…
Os dois caixeiros fungaram do outro lado da sala.
– D’Harmental – concluiu maliciosamente Carlos – e acrescentou: – Não sei de que se riem estes senhores.
– É porque têm a vida muito canseirosa – respondeu Manuel Quintino.
– Depois hei-de emprestar-lhe a Mademoiselle…
O mesmo efeito nos caixeiros.
– Mademoiselle de la Seiglière – delicada concepção de Jules Sandeau – concluiu Carlos, olhando-os com gravidade cómica.
– Adeus, já me fez enganar! – exclamou Manuel Quintino. – Por sua causa escrevi agora – cavalheiro – em vez de – Companhia.
– Isso emenda-se.
– Há-de emendar boas coisas.
– Emenda, sim. Olhe, desse a faz-se bem um o; depois, o m forma-se do v e do…
– O remédio é outro…
E com exemplar paciência começou nova carta.
– Oh! com os diabos! Então vai outra vez principiar?
– É o que o senhor faz.
– O caso é que você tem bonita letra! Invejo-lha. Se me ensinasse a escrever assim!
– Não precisa.
E, para fixar a atenção, ia dizendo em voz alta o que escrevia:
– Recebi o seu favor de 14 do corrente e em resposta…
– Não preciso? Preciso tal – prosseguiu Carlos.