E voltando à escrivaninha pôs-se a coordenar outra vez os papéis.
– Ó Manuel Quintino – perguntou-lhe Carlos já da janela –, quem é aquela rapariga que está aqui defronte no terceiro andar? Aquela cara é nova para mim.
– Eu sei lá disso, homem? Tomara que me deixassem.
– Quem é, ó Paulo, você há-de saber. Um rapaz da sua idade… – disse Carlos, dirigindo-se familiarmente a um dos caixeiros.
Era este um rapaz ainda imberbe, pálido, com certo fundo de melancolia, transparecendo por debaixo do jovial sorriso, próprio dos seus, ainda incompletos, dezoito anos. À pergunta de Carlos, aproximou-se da janela.
– Não sei – disse depois de ver a pessoa designada – não a conheço. O Pires há-de saber.
Pires era o nome do outro caixeiro, que por sua vez foi chamado.
E todos três, em resultado desta conferência, ficaram encostados à varanda, praticando em vários assuntos de igual momento.
Manuel Quintino, que já tinha posto por ordem os papéis, olhava de quando em quando para a janela e principiava:
Trai la rai…
trauteava o hino da Carta.
O vento, depois de prejudicar a papelada do guarda-livros, dirigiu os seus furores contra a pituitária do mesmo; Manuel Quintino começou a espirrar.
– Deus me salve! – dizia ele de cada vez.
À quinta não teve mão em si que não dissesse a Carlos:
– Ó Sr. Carlos! Ora a falar verdade, homem! Isso sempre é um gosto esquisito! Aí posto à janela com este vento dos diabos! Eu já estou.