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Capítulo 9: IX - No escritório

Página 100
– Vão lá saber agora… – prosseguiu Manuel Quintino – vão lá saber agora a ordem em que eu tinha tudo isto! Olhem… olhem… Ficou bonita a carta do correspondente de Liverpool! Sim, senhores! Olhem para estas contas da gerência da capela inglesa! Também ficaram asseadas! Pois estas apólices… E o maldito cão a afocinhar-me na água aquela minuta!… Passa fora! Eh!… passa fora, tratante.

E voltando à escrivaninha pôs-se a coordenar outra vez os papéis.

– Ó Manuel Quintino – perguntou-lhe Carlos já da janela –, quem é aquela rapariga que está aqui defronte no terceiro andar? Aquela cara é nova para mim.

– Eu sei lá disso, homem? Tomara que me deixassem.

– Quem é, ó Paulo, você há-de saber. Um rapaz da sua idade… – disse Carlos, dirigindo-se familiarmente a um dos caixeiros.

Era este um rapaz ainda imberbe, pálido, com certo fundo de melancolia, transparecendo por debaixo do jovial sorriso, próprio dos seus, ainda incompletos, dezoito anos. À pergunta de Carlos, aproximou-se da janela.

– Não sei – disse depois de ver a pessoa designada – não a conheço. O Pires há-de saber.

Pires era o nome do outro caixeiro, que por sua vez foi chamado.

E todos três, em resultado desta conferência, ficaram encostados à varanda, praticando em vários assuntos de igual momento.

Manuel Quintino, que já tinha posto por ordem os papéis, olhava de quando em quando para a janela e principiava:

Trai la rai…

trauteava o hino da Carta.

O vento, depois de prejudicar a papelada do guarda-livros, dirigiu os seus furores contra a pituitária do mesmo; Manuel Quintino começou a espirrar.

– Deus me salve! – dizia ele de cada vez.

À quinta não teve mão em si que não dissesse a Carlos:

– Ó Sr. Carlos! Ora a falar verdade, homem! Isso sempre é um gosto esquisito! Aí posto à janela com este vento dos diabos! Eu já estou.

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pág. 100 (Capítulo 9)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 100

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432