Uma Família Inglesa - Cap. 9: IX - No escritório Pág. 100 / 432

– Vão lá saber agora… – prosseguiu Manuel Quintino – vão lá saber agora a ordem em que eu tinha tudo isto! Olhem… olhem… Ficou bonita a carta do correspondente de Liverpool! Sim, senhores! Olhem para estas contas da gerência da capela inglesa! Também ficaram asseadas! Pois estas apólices… E o maldito cão a afocinhar-me na água aquela minuta!… Passa fora! Eh!… passa fora, tratante.

E voltando à escrivaninha pôs-se a coordenar outra vez os papéis.

– Ó Manuel Quintino – perguntou-lhe Carlos já da janela –, quem é aquela rapariga que está aqui defronte no terceiro andar? Aquela cara é nova para mim.

– Eu sei lá disso, homem? Tomara que me deixassem.

– Quem é, ó Paulo, você há-de saber. Um rapaz da sua idade… – disse Carlos, dirigindo-se familiarmente a um dos caixeiros.

Era este um rapaz ainda imberbe, pálido, com certo fundo de melancolia, transparecendo por debaixo do jovial sorriso, próprio dos seus, ainda incompletos, dezoito anos. À pergunta de Carlos, aproximou-se da janela.

– Não sei – disse depois de ver a pessoa designada – não a conheço. O Pires há-de saber.

Pires era o nome do outro caixeiro, que por sua vez foi chamado.

E todos três, em resultado desta conferência, ficaram encostados à varanda, praticando em vários assuntos de igual momento.

Manuel Quintino, que já tinha posto por ordem os papéis, olhava de quando em quando para a janela e principiava:

Trai la rai…

trauteava o hino da Carta.

O vento, depois de prejudicar a papelada do guarda-livros, dirigiu os seus furores contra a pituitária do mesmo; Manuel Quintino começou a espirrar.

– Deus me salve! – dizia ele de cada vez.

À quinta não teve mão em si que não dissesse a Carlos:

– Ó Sr. Carlos! Ora a falar verdade, homem! Isso sempre é um gosto esquisito! Aí posto à janela com este vento dos diabos! Eu já estou.





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