Cecília era o que naturalmente a todos ocorre chamar – uma pobre rapariga. – Nesta expressão nada há que faça supor a beleza da pessoa a quem se aplica, bem sei; nem em rigor se refere a qualidade alguma moral.
É certo; por isso não a analiso. Sucede porém que, quando, de qualquer mulher que não conheço, ouço dizer que é – uma pobre rapariga –, não sei por que a imagino bela, bela de beleza nacional e com um coração… como o coração de Cecília.
Aqui temos a inglesa Jenny, que não poderia recear confrontos com a sua amiga, nem em gentileza nem em bondade; mas, não sei porquê, lembrou-me chamar a Jenny anjo e fada, e hesitaria em defini-la, como defino a Cecília.
Acusar-me-ão de dar à filha de Manuel Quintino uma feição demasiadamente burguesa, com a frase burguesa pela qual a caracterizo. Folgarei de que seja merecida a crítica, porque… – vá aqui mais outra confissão, em que revelarei a minha coragem, – eu simpatizo mais com os tipos burgueses do que com os tipos aristocráticos – e em mulheres sobretudo. Rodeia-se de mais poesia aos meus olhos a rapariga burguesa, e sem aspirações a deixar de sê-lo, quando a trabalhar à luz do candeeiro, do que a elegante dos salões, gastando a imaginação em problemas de toucador; a costura, a simples, a modesta costura, útil e abençoada aplicação da agulha feminina, agrada-me bem mais do que as bonitas futilidades do, reputado mais nobre, trabalho de bastidor; a mulher que a si própria se penteia acho-a mais merecedora da contemplação do artista, do que a indolente que, reclinada numa poltrona e folheando um jornal de modas, entrega a cabeça às mãos de uma criada ou do cabeleireiro. Esta, a ser copiada, basta-lhe por tela… um leque ou uma tampa de cartonagem.