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Capítulo 11: XI – Cecília

Página 125
que ela não reprimiu, acrescentou: – E então, naquela idade e naquela miséria toda, o cuidado que o pobrezinho tinha ainda com o rabicho que usava na cabeleira! Coitado!

De outra vez contava, rindo, o episódio caricato de certo operário, seu vizinho, que voltara uma noite a casa em completo estado de embriaguez, e atordoara a rua inteira com expansões de extemporânea alacridade, altercando, cantando e tocando até altas horas. Tudo quanto até ali referira lhe merecera sorrisos, mas, num instante, cobriu-se-lhe o rosto de profunda tristeza e, suspirando, prosseguiu, cingindo a mão de Jenny:

– Mas não quer saber? Quando este homem estava mais contente, vieram trazer-lhe um cão, que ele estimava muito e que naquela mesma noite haviam envenenado nas ruas. Parece-me que estou ainda a ver como ele ficou; esteve por muito tempo calado a olhar para o pobre animal e depois desatou a chorar e a abraçá-lo, chamando-lhe seu amigo, seu companheiro, até… – acrescentou, sorrindo – até seu irmão. Metia realmente dó. E aquela gente a rir cada vez mais! Era aquilo para rir; diga?

Justeza de observação, talento para apreciar todas as faces dos sentimentos e das acções humanas, poucas vezes os dá o estudo no grau em que ela naturalmente os possuía.

Não se podia pois, repetimos, dizer Cecília apaixonada como uma italiana, pensativa como uma alemã, séria como uma inglesa, lânguida como uma espanhola, coquette como uma francesa, porque a nenhum desses tipos se aproximava; era verdadeiramente portuguesa, e, para caracterizar estes, só conheço uma frase, de que talvez o leitor se vá rir, mas pela qual eu tenho inexplicável predilecção. Associa-lhe o meu pensamento tal conjunto de qualidades físicas e morais que, sempre que a ouço aplicar, ela só, supre para mim uma longa descrição; e se for a analisá-la não lhe encontro decerto a compreensão que instintivamente lhe atribuo.

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pág. 125 (Capítulo 11)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 125

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432