Uma Família Inglesa - Cap. 12: XII - Outro depoimento Pág. 128 / 432

XII - Outro depoimento

– Esteve doente, Cecília? – perguntou Jenny, acomodando o chapéu da amiga.

– Não; por que mo pergunta?

– Nem eu sei. Pareceu-me ler-lhe no rosto… e depois… veio tão tarde.

– Ai, menina – replicou Cecília, sorrindo e ajeitando o cabelo, que o chapéu desordenara – é que se soubesse… Hoje fiz de fidalga. Levantei-me depois das oito horas.

– Sim, preguiçosa? E querem então ver que se esqueceu de trazer aqueles cabeções de que me falou.

– Agora. Olhe; trago esses e até mais alguma coisa…

– Bem, bem; vamos ver isso tudo – atalhou Jenny, com curiosidade.

E as duas raparigas foram sentar-se, uma ao lado da outra, no sofá próximo da janela.

– Veio só? – perguntou Jenny, momentos depois.

– Vim.

– Sem medo?… no dia de Entrudo!…

– Medo nenhum. De minha casa aqui são caminhos que podem dizer-se todos de aldeia. Quase sempre por entre quintas e campos… Encontrei umas criancitas, que vinham da mestra, e conversei com elas todo o tempo.

E, continuando a revistar o interior de um saco de marroquim verde com fechos de aço, lia prosseguiu, mudando de tom:

– Não julgue que lhe vou mostrar nenhuma preciosidade; foi uma distracção de meia hora no serão de sábado. Esta semana tive tanto que fazer, que não pude ocupar-me com estas bagatelas. Bem sabe que não me cresce muito tempo para brincar. Olhe.

E mostrava a Jenny um delicadíssimo primor da arte feminina; um cabeção apenas, mas do qual, se me auxiliassem conhecimentos técnicos, poderia fazer uma descrição, pelo menos do tamanho da que Homero consagrou ao escudo de Aquiles.

Mas a ciência das leitoras e a ignorância provável dos leitores neste assunto não lhes deixarão sentir a lacuna.

– Pois eu ia quase dizer-lhe que inda acho este mais bonito do que o outro que me mostrou há dias – disse Jenny, demorando-se a examinar o cabeção.





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