– O desenho desse é mais delicado, mas… Ai! – acrescentou, passando, a sorrir, a mão pelos olhos, e suspirando – parece-me que nem vejo, de sono que tenho!
– Sono! E levantou-se tão tarde! Que quer dizer isso hoje, Cecília?
– É que me deitei ontem muito tarde também.
– A trabalhar?
Houve um intervalo de silêncio, antes que Cecília se resolvesse a responder. Jenny insistiu, elevando ao mesmo tempo os olhos para ela. Viu-a corando e como entretida a segurar um alfinete.
Os alfinetes são os principais cúmplices de todos os disfarces femininos. Sempre que uma mulher precisa de ocultar um sorriso, uma turbação, um rubor, tem a certeza de encontrar estes amigos oficiosos a servirem-lhe de pretexto. Há sempre um alfinete a pregar, a despregar e a repregar de novo.
Afinal, porém, com visível esforço sobre si mesma, Cecília respondeu de uma maneira que em vão procurou tornar natural:
– Não, Jenny, não foi a trabalhar.
Jenny pressentiu um segredo naquele enleio e hesitação, mas não tentou descobri-lo; disfarçando as suas suspeitas, disse-lhe:
– Pôs agora de lado um trabalho de crochet que me pareceu bonito.
Cecília mostrou-lho, sem dizer nada.
E o silêncio manteve-se algum tempo entre as duas, silêncio de as constranger a ambas; até que enfim Cecília, numa dessas súbitas resoluções tão frequentes nela, e pelas quais parecia querer apressar-se a realizar um bom pensamento, antes que ulteriores reflexões viessem sufocá-lo, pôs de lado, com certa impaciência, toda a obra que tinha estendida no regaço e, tomando as mãos de Jenny, fitou os olhos, negros e cheios de vida, nos olhos azuis e suavemente melancólicos com que esta a seguia admirada.
Cecília conservou-se ainda alguns momentos silenciosa e indecisa; mas por fim,