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Capítulo 12: XII - Outro depoimento

Página 129

– O desenho desse é mais delicado, mas… Ai! – acrescentou, passando, a sorrir, a mão pelos olhos, e suspirando – parece-me que nem vejo, de sono que tenho!

– Sono! E levantou-se tão tarde! Que quer dizer isso hoje, Cecília?

– É que me deitei ontem muito tarde também.

– A trabalhar?

Houve um intervalo de silêncio, antes que Cecília se resolvesse a responder. Jenny insistiu, elevando ao mesmo tempo os olhos para ela. Viu-a corando e como entretida a segurar um alfinete.

Os alfinetes são os principais cúmplices de todos os disfarces femininos. Sempre que uma mulher precisa de ocultar um sorriso, uma turbação, um rubor, tem a certeza de encontrar estes amigos oficiosos a servirem-lhe de pretexto. Há sempre um alfinete a pregar, a despregar e a repregar de novo.

Afinal, porém, com visível esforço sobre si mesma, Cecília respondeu de uma maneira que em vão procurou tornar natural:

– Não, Jenny, não foi a trabalhar.

Jenny pressentiu um segredo naquele enleio e hesitação, mas não tentou descobri-lo; disfarçando as suas suspeitas, disse-lhe:

– Pôs agora de lado um trabalho de crochet que me pareceu bonito.

Cecília mostrou-lho, sem dizer nada.

E o silêncio manteve-se algum tempo entre as duas, silêncio de as constranger a ambas; até que enfim Cecília, numa dessas súbitas resoluções tão frequentes nela, e pelas quais parecia querer apressar-se a realizar um bom pensamento, antes que ulteriores reflexões viessem sufocá-lo, pôs de lado, com certa impaciência, toda a obra que tinha estendida no regaço e, tomando as mãos de Jenny, fitou os olhos, negros e cheios de vida, nos olhos azuis e suavemente melancólicos com que esta a seguia admirada.

Cecília conservou-se ainda alguns momentos silenciosa e indecisa; mas por fim,

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pág. 129 (Capítulo 12)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 129

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432