Uma Família Inglesa - Cap. 13: XIII - Vida portuense Pág. 154 / 432

– Pois quem foi preso? – perguntou Manuel Quintino, que, tendo estado a dormir, não sabia que o seu amigo se referia ao romance que vinha na folha.

– Então não ouviu? – disse o Sr. Fortunato, engolindo um bolo. – Ela foi bem pilhada, isso lá foi. Porque o homem, pelos modos, não sabia que o desconhecido era o pai da rapariga, e tanto que ele ficou espantado quando o outro lhe apareceu, vestido de preto, e lhe disse… – Aqui o Sr. Fortunato engrossou a voz. – «Eu sou a última das tuas vítimas!» – E o filho então é que veio a saber disto; sim, porque até ali não sabia nada. Veio então a saber que a irmã do amigo do comendador é que tinha dado o dinheiro que eles entregaram à tal viúva do cunhado do escrivão.

Manuel Quintino mexia maquinalmente o chá, olhando boquiaberto para o amigo, sem que percebesse uma só palavra, apesar de o Sr. Fortunato gesticular, voltado para ele.

– Que diacho de embrulhada é essa? Eu se o entendo!

– Então não leu? – teimava o outro. – Eles tinham combinado que, logo que partisse o navio, o rapaz fosse acusado do roubo feito ao comendador; e para isso mandaram dizer aos tios do defunto que as jóias foram encontradas na caixa do escudeiro do desconhecido, mas…

– Mas quem demónio é essa gente toda? Que mexerofada de coisas! – exclamou Manuel Quintino, deveras impaciente.

– Então não ouviu? – insistiu o Sr. Fortunato, cuja natural dificuldade de expressão se exacerbava ao expor as enredadas aventuras de um romance francês.

Cecília, que ao princípio não atentara no diálogo cómico que se estava trocando entre os velhos, não pôde deixar de rir com vontade, ao dar por ele.

– Mas onde aconteceu isto tudo, homem? – perguntava Manuel Quintino.

– Em Paris. Pois não…

– O pai não vê que o Sr. Fortunato está a falar do romance?

– Ah! Isso sim.





Os capítulos deste livro