Uma Família Inglesa - Cap. 13: XIII - Vida portuense Pág. 153 / 432

Quarta parte: – Fortunato diz que está a expirar o Carnaval. – Manuel Quintino replica que lhe não deixa saudades. – Fortunato faz igual declaração. – Manuel Quintino vê com maus olhos a chegada da Quaresma, por causa das confissões. Discute-se quais os confessores mais passa-culpas. Manuel Quintino lembra-se de perguntar quem inventaria isto de confissões. Fortunato fá-las remontar ao tempo dos Romanos, supremo grau de vetustez dele conhecido.

Desta vez os bocejos ficaram em meio, graças à entrada de Cecília e de Antónia com o tabuleiro do chá.

Era notável a transformação operada em Fortunato. Alegrava-o o aspecto das tostas e do leite. Então que querem? Não era que o homem precisasse daquilo; mas, enfim, todo aquele aparato bulia-lhe com a sensibilidade gustativa e, por os misteriosos laços do físico e do moral, lá se lhe ia entender com a alma por fim.

Esta satisfação interior desentranhava-se em amabilidades para com a Hebe doméstica daquela ambrósia – a Sr.a Antónia.

– Ai, Sr.a Antónia – dizia ele – assim é que é; cada vez mais nova.

– Não me diga isso, Sr. Fortunato; logo eu, que estou acabada.

– Acabada! Ainda mal principiou…

Eu não sei se era intenção do Sr. Fortunato terminar aqui a oração, cujo sentido fica um tanto obscuro. E não o sei, porque neste ponto Cecília interrompeu-o, dizendo-lhe:

– Faz favor de ver se está bom do açúcar, Sr. Fortunato.

– Excelente, menina; mas faz-me favor de mais uma colherinha. Assim, muito bem; mais uma agora e mais nada… assim… agora mais não. Está bem.

Depois de cada um tomar a sua posição respectiva, o Sr. Fortunato principiou a falar, misturando na boca as palavras com chá, com leite, e com tostas e bolos.

– Pois, menina, eu estou morto agora por ver se o tal meliante escapa da prisão.





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