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Capítulo 13: XIII - Vida portuense

Página 156

– Deixa estar, filha, que eu cá me vou servindo.

– Pois sim – insistiu o Sr. Fortunato – mas que ele não é lá de muito bons costumes, isso é que é verdade.

– Antónia, sirva aqui o Sr. Fortunato – disse Cecília secamente, ordem que, por excepcional, surpreendeu a todos.

Também não sei bem explicar a razão desta ordem.

– Tudo isso não passa de rapaziada – prosseguiu Manuel Quintino. – Mas o que se chama fundo, boa alma, isso tem.

– Olhe, Sr. Manuel Quintino, homem que não toma rumo de vida…

– Também há muitas más almas à testa de grandes estabelecimentos, Sr. Fortunato. Se um modo de vida fosse garantia de probidade! – disse Cecília com ironia.

– Pois bem sei que não, menina, mas…

– Mas, mas, meu caro – disse Manuel Quintino –, o que ninguém pode negar é que está ali um homem de bem… é verdade isso… Muitos fazem pior com menos a desculpá-los.

O diálogo prosseguiu, discutindo-se muito Carlos. Cecília porém absteve-se de tomar parte nele.

Terminou o chá. O ardor da conversa baixou. Manuel Quintino pressentia o sono. José Fortunato sentia-se a digerir. Cecília trabalhava e às vezes ficava parada com os olhos fitos na luz, como se ela lhe oferecesse qualidades novas a examinar. Davam enfim nove horas.

– Ora vamos até casa – disse José Fortunato, erguendo-se.

– Olhe se se agasalha – recomendou Manuel Quintino.

– Antónia, venha alumiar – disse Cecília.

E o Sr. Fortunato, feitos os seus cumprimentos, descia as escadas, conversando com Antónia até à porta da rua a respeito de frieiras, e metia-se em casa, onde a imaginação teimava em recordar-lhe a doce figura de Cecília e tudo quanto lhe dissera.

– Estranhei hoje os modos da rapariga – dizia ele ao deitar-se.

Uma pérfida paixão começara, havia muito, a minar o coração do pobre homem.

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pág. 156 (Capítulo 13)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 156

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432