Uma Família Inglesa - Cap. 13: XIII - Vida portuense Pág. 156 / 432

– Deixa estar, filha, que eu cá me vou servindo.

– Pois sim – insistiu o Sr. Fortunato – mas que ele não é lá de muito bons costumes, isso é que é verdade.

– Antónia, sirva aqui o Sr. Fortunato – disse Cecília secamente, ordem que, por excepcional, surpreendeu a todos.

Também não sei bem explicar a razão desta ordem.

– Tudo isso não passa de rapaziada – prosseguiu Manuel Quintino. – Mas o que se chama fundo, boa alma, isso tem.

– Olhe, Sr. Manuel Quintino, homem que não toma rumo de vida…

– Também há muitas más almas à testa de grandes estabelecimentos, Sr. Fortunato. Se um modo de vida fosse garantia de probidade! – disse Cecília com ironia.

– Pois bem sei que não, menina, mas…

– Mas, mas, meu caro – disse Manuel Quintino –, o que ninguém pode negar é que está ali um homem de bem… é verdade isso… Muitos fazem pior com menos a desculpá-los.

O diálogo prosseguiu, discutindo-se muito Carlos. Cecília porém absteve-se de tomar parte nele.

Terminou o chá. O ardor da conversa baixou. Manuel Quintino pressentia o sono. José Fortunato sentia-se a digerir. Cecília trabalhava e às vezes ficava parada com os olhos fitos na luz, como se ela lhe oferecesse qualidades novas a examinar. Davam enfim nove horas.

– Ora vamos até casa – disse José Fortunato, erguendo-se.

– Olhe se se agasalha – recomendou Manuel Quintino.

– Antónia, venha alumiar – disse Cecília.

E o Sr. Fortunato, feitos os seus cumprimentos, descia as escadas, conversando com Antónia até à porta da rua a respeito de frieiras, e metia-se em casa, onde a imaginação teimava em recordar-lhe a doce figura de Cecília e tudo quanto lhe dissera.

– Estranhei hoje os modos da rapariga – dizia ele ao deitar-se.

Uma pérfida paixão começara, havia muito, a minar o coração do pobre homem.





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