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Capítulo 13: XIII - Vida portuense

Página 157

Manuel Quintino, como tinha de se levantar cedo, ia-se deitar pouco tempo depois de Fortunato sair.

O diálogo entre o pai e a filha desta vez consistiu nisto:

– Este Sr. Fortunato às vezes!…

– É caturra, é…

– E tem umas ideias! Boa-noite, meu pai.

– Muito boa-noite, minha filha. Deus te abençoe.

Cecília retirou-se.

Apesar de na véspera se ter deitado tarde, como o leitor sabe, Cecília não sentia sono. Parecia-lhe estar ainda experimentando o atordoamento do baile. Lembrava-lhe tudo quanto Carlos lhe dissera, e o mais que de Jenny tinha sabido, e afligia-se então. Depois vinham as reflexões de Fortunato, depois as palavras do pai e os episódios que de Carlos Whitestone referira. Afinal cedeu ao sono. Pouco lucrou na transição. Há certo dormir que fatiga mais que a vigília. Trava-se uma luta de sonhos que nos deixa extenuados.

Cecília imaginou que ia num barco, levado pela corrente impetuosa do rio, em direcção da barra. O perigo era certo, e contudo o barco ia cheio de máscaras que dançavam. Cecília gritava, mas ela própria não escutava a sua voz. O barqueiro era o Sr. Fortunato, e, coisa singular, ao mesmo tempo que remava, ia tomando chá. Depois vinha Carlos, com um cavalo pela rédea; mas o que mais a surpreendia era que vinha pelo mar. Carlos queria salvá-la, tirando-a do barco, mas as outras máscaras e o Sr. Fortunato não deixavam. Porém o Sr. Fortunato já não era o Sr. Fortunato, mas, sim, um dos personagens do romance que tanto o impressionara; e o mar também já não era bem mar, porque tinha camarotes em volta. E contudo o perigo persistia, sem saber bem como ou em quê, e agora era ela a que fugia de Carlos.

Finalmente, o sonho era um enredo complicado, tendo por elementos os diversos acontecimentos e assuntos que mais tinham preocupado Cecília naquele dia, mas tudo em desordem completa.

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pág. 157 (Capítulo 13)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 157

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432