Manuel Quintino, como tinha de se levantar cedo, ia-se deitar pouco tempo depois de Fortunato sair.
O diálogo entre o pai e a filha desta vez consistiu nisto:
– Este Sr. Fortunato às vezes!…
– É caturra, é…
– E tem umas ideias! Boa-noite, meu pai.
– Muito boa-noite, minha filha. Deus te abençoe.
Cecília retirou-se.
Apesar de na véspera se ter deitado tarde, como o leitor sabe, Cecília não sentia sono. Parecia-lhe estar ainda experimentando o atordoamento do baile. Lembrava-lhe tudo quanto Carlos lhe dissera, e o mais que de Jenny tinha sabido, e afligia-se então. Depois vinham as reflexões de Fortunato, depois as palavras do pai e os episódios que de Carlos Whitestone referira. Afinal cedeu ao sono. Pouco lucrou na transição. Há certo dormir que fatiga mais que a vigília. Trava-se uma luta de sonhos que nos deixa extenuados.
Cecília imaginou que ia num barco, levado pela corrente impetuosa do rio, em direcção da barra. O perigo era certo, e contudo o barco ia cheio de máscaras que dançavam. Cecília gritava, mas ela própria não escutava a sua voz. O barqueiro era o Sr. Fortunato, e, coisa singular, ao mesmo tempo que remava, ia tomando chá. Depois vinha Carlos, com um cavalo pela rédea; mas o que mais a surpreendia era que vinha pelo mar. Carlos queria salvá-la, tirando-a do barco, mas as outras máscaras e o Sr. Fortunato não deixavam. Porém o Sr. Fortunato já não era o Sr. Fortunato, mas, sim, um dos personagens do romance que tanto o impressionara; e o mar também já não era bem mar, porque tinha camarotes em volta. E contudo o perigo persistia, sem saber bem como ou em quê, e agora era ela a que fugia de Carlos.
Finalmente, o sonho era um enredo complicado, tendo por elementos os diversos acontecimentos e assuntos que mais tinham preocupado Cecília naquele dia, mas tudo em desordem completa.