Enquanto Cecília passava assim pacificamente o serão daquela noite, andava Carlos procurando com ansiedade, por todos os salões de máscaras, a sua desconhecida da véspera.
Jenny notara a impaciência com que o irmão tinha aguardado a noite e, ao vê-lo sair, disse-lhe com modo particular:
– Adeus, Charles; quer-me parecer que te não recolherás desta vez pelas quatro horas da manhã.
– Quem sabe, Jenny?
– Adivinho-o.
Efectivamente não eram ainda duas horas, quando Carlos Whitestone, cansado de procurar em vão, em cada dominó e sob cada máscara de seda, a incógnita do último baile, voltou a casa em pouco agradável disposição de espírito.
Jenny, que o sentiu chegar, sorriu de novo e disse consigo mesma:
– Inda bem que terminou o Carnaval. Charles, dentro de dois dias, já pensará em outra coisa.
Acabara de facto o Carnaval. Expirara essa época votada à folia e à loucura sem rebuços e abria-se agora a da penitência e dos sermões.
Em qual das duas há mais verdades, mascaradas sob falsas aparências, deixo aos moralistas decidir. Ia principiar o reinado dos véus, durante o qual a piedade e a moda levam às sextas-feiras a multidão para a igreja de S. João Novo, e ao domingo despejam meia cidade nos arrabaldes próximos, para assistir à procissão dos Passos e ao respectivo sermão do encontro.
Quase toda a manhã de Quarta-Feira de Cinzas passou-a Carlos em casa.
Contra o que era de esperar do carácter dele, dominava-o ainda a lembrança da misteriosa máscara; o despeito de a ter deixado escapar, sem que lhe ficassem vestígios pelos quais concorria para o não deixar tranquilo agora. Estava dando tratos à imaginação, para se lembrar de qualquer meio conducente à solução daquele problema de carnaval.