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Capítulo 14: XIV - Iminências de crise

Página 160
Mas nenhum alvitre lhe oferecia a imaginação atormentada.

Saiu, enfim, sem saber para quê, nem para onde; em vez de procurar os centros de reunião mais concorridos, e onde, de ordinário, se fazia ver e ouvir, mudou de rumo, deixou-se ir ao acaso e, passado tempo, caminhava por entre os pinhais que orlam a parte ainda não edificada da Rua da Boavista.

Nos seus hábitos de vida, essencialmente urbana, eram tão raras as ocasiões de se ver assim entre árvores e fora do povoado, principalmente àquelas horas do dia, que o facto estava-lhe causando uma impressão singular.

Parecia-lhe um mundo novo; e ali, a dois passos de casa!

Internou-se por pinhais e campos, até perder de vista a estrada. Parou enfim. Num estado moral, como o de Carlos naquela manhã, não são necessários os grandes espectáculos da natureza para incitarem o pensamento a uma dessas divagações a que anda tão sujeito o dos poetas.

A vastidão do mar, o horizonte amplíssimo que se descobre do alto das montanhas, o fragor da catarata que se despenha no vale subjugam e obrigam a meditar até os menos propensos a contemplações abstractas.

Haja porém um fermento de poesia no espírito de qualquer homem, ou tenha-se apoderado dele a melancolia, que é uma poesia também, e menores causas bastarão para se produzirem efeitos ainda maiores.

O caminhar do insecto ou o rastejar do verme por entre as folhas secas do chão, a lande, desprendida do ramo e arrebatada na corrente, o raio do sol, que vai colorir a maravilhosa teia que a aranha teceu nas tojeiras, nas praias o movimento de expansão das actínias ou rosas-do-mar, esses verdadeiros forçados das fragas, e outros iguais fenómenos, sem importância para quem os vê com ânimo distraído, são já alimento bastante para fantasias mais apuradas.

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pág. 160 (Capítulo 14)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 160

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432