– Não é dessa injustiça que eu desejo ver-te arrependido, Charles, mas antes da do conceito que fizeste de Cecília, do modo como a trataste, só por a veres onde nem quiseste supor que pudesse estar tua irmã…
– E repito! – acudiu Carlos, com vivacidade.
– Pois bem, Charles – respondeu Jenny placidamente, mas em tom repreensivo. – Digo-te eu então que as qualidades, que a vida inteira de Cecília dão-lhe direito a exigir de ti tanta consideração e estima, como a que dizes ter-me. É ainda hoje a minha melhor amiga.
Carlos olhou para a irmã, admirado, tal era a gravidade que lhe descobriu no olhar e na voz.
Devemos confessar que ele nunca viu em Cecília outra coisa mais do que uma rapariga bonita, a qual muitas vezes lhe merecera olhares complacentes, mas de quem tão depressa se esquecia, como dela se afastava.
Recordo-me de haver dito que esta qualidade, de não desafiar imediatamente impressões profundas, caracterizava a espécie de beleza que Cecília possuía.
Nos seus dotes morais nunca pensara Carlos; e para que havia ele de pensar nisso? Por estes motivos a seriedade, de que se revestira subitamente o rosto de Jenny, impressionou-o.
– Bem, Jenny – respondeu ele, fazendo-se sério também –, as tuas palavras reabilitariam até aqueles que precisassem de ser reabilitados. E Cecília, creio-o firmemente, não está nesse caso. Censuras, em tudo isto, só as mereço eu. Hei-de provar-te que assim o penso.
Jenny estendeu-lhe a mão.
– Agora reconheço-te pelo que és. Agradecida.
E depois, apontando para Manuel Quintino:
– Escuso lembrar-te que ele ignora tudo.
– E ficará ignorando.
Manuel Quintino sonhava-se agora no escritório, a fazer uma baralhada conta de somar.
Passados momentos, rodava pelas ruas da cidade a carruagem que transportava a casa a família Whitestone.