– Pois sim, mas o que é certo é que se a demora fosse natural, ele é que já tinha mandado aviso. Pois então não havia de saber a canseira e susto que causava à menina?
Cecília afastou-se, impaciente, desta Cassandra de cozinha, e voltou à janela.
Estavam já acesos os lampiões da rua. As sombras da noite parecia estenderem-se ao coração de Cecília.
– A menina quer que traga luz? – perguntou a criada, entrando na sala.
Esta pergunta, obrigando-a a notar o adiantado da hora, soou funebremente aos ouvidos de Cecília.
– Não – disse ela, com voz alterada. – Luz, tão cedo!
– Cedo?! Onde vão as sete, menina! Está de ver que não vem.
– Que não vem! Que não vem! Você está doida, mulher? Pois não há-de vir? – exclamou, com dobrada impaciência e quase com raiva, Cecília, debruçando-se mais na janela.
– A menina não faz nada em o esperar assim. Lá por estar aí não é que ele vem mais depressa – ponderou tolamente a Sr.a Antónia.
– Não lhe importe; deixe-me – disse-lhe secamente Cecília.
– Uma coisa assim! – prosseguiu a criada. – Não que quando a gente mal se precata! Sai uma pessoa muito sossegada de sua casa e só Deus sabe para quê! Para onde iria também aquela criaturinha do Senhor? Quem pode lá dizer o que lhe sucedeu? Sume-te! Eu lembro-me de que um dia meu pai...
– Vá buscar luz, vá – ordenou Cecília, para escapar ao caso que Antónia aparelhava, com o piedoso intento de tirar dele talvez uma indução pouco de tranquilizar.
Antónia saiu.
Cecília, de assustada que estava, já não sabia o que fizesse.
Qualquer vulto, que assomava ao princípio da rua, lhe parecia o pai; seguia-o com ansiosa curiosidade, cedo transformava-se em desalento esta curiosidade, porque o via passar indiferente para além da porta da casa.