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Capítulo 21: XXI - O que vale uma resolução

Página 249

Andavam já bem perto dos olhos as lágrimas em Cecília, quando Antónia voltou com a luz.

– Então, ainda nada? – perguntou a criada.

Cecília não lhe respondeu.

– Quer que feche as janelas?

– Não.

– Não tem que ver; a coisa não é natural. O pai é amigo de recolher-se cedo e não era homem que não mandasse recado, no caso de, de todo em todo, não poder vir. Ninguém me tira disto. Aquilo foi coisa que lhe sucedeu por lá.

O relógio deu meia hora depois das sete.

– Já sete e meia! Sempre é de mais! Ó menina, eu vou extrair o chá, não acha?

– Não; cale-se para aí. Quero lá saber do chá. Bem me importa a mim o chá. Você perdeu o juízo?

– É que o Sr. José Fortunato não tarda por aí…

– Pois se vier, veio. Não tenho mais em que pensar, senão no Sr. José Fortunato! Deixe-me, deixe-me.

Antónia era destas pessoas a quem as maiores inquietações não fazem perder a ideia das suas obrigações habituais. Enquanto o espírito se perturba e a boca lhe traduz os pensamentos, as mãos, independentes da imaginação, prosseguem na tarefa do costume.

Cecília não; carácter apaixonado, era toda a ideia que a possuía. A irresolução que devia àquele estado de ansiosa dúvida para tudo a inabilitava.

Em nada consentia que lhe falassem naquele momento, nada queria escutar, de nada queria saber.

Ansiava, nervosa, impaciente, febril, passava de uma para outra janela, voltava ao interior da sala, chegava ao patamar, e corria à janela outra vez.

Em uma destas ocasiões ouviu duas mulheres, que passavam na rua, dizerem:

– Uma desgraça assim! Foram todos; uns morreram, outros ficaram aleijados para toda a vida.

O coração de Cecília bateu com violência ao ouvir aquilo. Não pôde reprimir-se, que não perguntasse às mulheres de que desgraça falavam.

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pág. 249 (Capítulo 21)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 249

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432