Uma Família Inglesa - Cap. 22: XXII - Educação comercial Pág. 263 / 432

– O Paulo?! O senhor tem coisas!… Cuida que escrever nos livros comerciais é o mesmo que fazer um rol de roupa suja?!

– Ao princípio não duvido que se lute com alguma dificuldade, mas no fim de três dias…

– Três horas, três horas… é melhor três horas… Valha-o Deus!… Ó Cecília, eu não posso levar ao fim este caldo… Tira para lá, filha…

– Era uma colher só – disse Cecília, fingindo que lhe obedecia, mas com um modo que quebrou a Manuel Quintino a coragem de resistir-lhe.

– Então dá cá. – E, fechando os olhos, esgotou até às fezes aquela espécie de taça de amargura, fez uma careta, e respirou no fim, como se se aliviasse de enorme encargo.

Daí a pouco, a ideia de faltar ao escritório incomodava-o outra vez. Antevia mil complicações sérias nos negócios pendentes, e tão longe ia, neste caminho, a sua fértil imaginação, que não parava senão em iminente falência.

Homem habituado a não passar um só dia ocioso, exagerava as consequências da sua falta; guarda-livros que adquirira, por trabalhosa experiência, o saber comercial, supunha indispensáveis anos para habilitar qualquer inteligência a adquirir igual saber e a ordenar a escrituração dos livros de comércio.

Por isso ouviu com espanto, acompanhado de zombaria, a proposta que, como extremo e eficaz recurso, Carlos acabou por lhe fazer, depois de em longa discussão sobre o assunto ter, com o auxílio de Cecília, combatido aquelas apreensões.

– Está bom; sossegue – disse Carlos. – Deixe-se ficar na cama o tempo que quiser e que lhe for preciso, porque, enquanto à escrituração, eu encarrego-me dela.

Manuel Quintino conservou por algum tempo os olhos muito abertos, voltados para o filho de Mr. Richard; lá lhe parecia tão extravagante aquela promessa em um homem de cuja experiência comercial sabia o que pensar, que nem com resposta atinou que lhe desse.





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