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Capítulo 22: XXII - Educação comercial

Página 273

No exemplo que temos à vista, Manuel Quintino era o representante das ideias conservadoras; Carlos, o apóstolo do progresso.

Por vezes o inabalável rochedo da experiência do guarda-livros foi rudemente açoitado pelas objecções que a lúcida inteligência de Carlos contra ele despedia. – Manuel Quintino fazia, porém, como o rochedo; não as repelia, deixava-as passar por si e ficava firme.

Manuel Quintino explicara, por exemplo, a Carlos a maneira de fazer os lançamentos, no caso de uma suposta remessa de lã para Liverpool.

Carlos combateu a longura e complicação dos processos seguidos, expondo a maneira como, no seu entender, se podia e devia simplificar a escrituração; parecia-lhe que muitas indicações feitas nos livros escusavam de ser registadas, e neste caso estavam todas aquelas contas que, pelo processo de Manuel Quintino, eram creditadas e debitadas simultaneamente; desnecessário julgava fazer menção delas, visto que ficavam logo por esse facto saldadas.

Os métodos indicados por Carlos eram tão simples, tão racionais, tão despidos de minuciosidades defeituosas, despojavam os livros de tantas indicações supérfluas, ronceiramente consagradas pelo hábito, que Manuel Quintino não soube como combatê-los.

Imagine-se a contrariedade que experimentou com isto!

Não era ele, porém, homem que rompesse com hábitos velhos e renegasse, perante as primeiras objecções de um rapaz inexperiente, o clássico sistema, a que fora fiel durante os muitos anos do seu tirocínio comercial; por isso retorquiu com acrimónia:

– Não sei de contos; assim é que se faz.

– Será; mas não se podia fazer também da maneira que eu digo?

– Podia… não podia… isto é… podia… não podia, não, senhor.

– Porquê?

– Porque não.

– Mas é, sem comparação, mais simples.

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pág. 273 (Capítulo 22)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 273

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432