aceitasse uma letra ou lhe endossasse alguma, pagável à ordem dele; percebe? O senhor escrevia no Diário: Letras a receber a vinho… – Note que os nomes do credor e do devedor se escrevem sempre em letra grande. – Percebe? Depois explicava a transacção por baixo destes títulos…
Não pretendendo os leitores provavelmente instruir-se em ciência comercial, dispensar-me-ão de transcrever na íntegra a prelecção de Manuel Quintino.
Durante ela, manteve-se sempre em conflito o espírito prático, o respeito às velhas fórmulas, a experiência intransigente do mestre, com o arrojo inovador, as tendências simplificadoras e a aversão a inúteis complicações do discípulo.
Mais uma vez se verificou a eterna luta entre a teoria e a prática; uma, com seus instintos de jovem, com seus hábitos de actividade, com seus amores pelo futuro e pelo progresso; outra, com a frieza da idade madura, com uma índole, essencialmente prosaica e conservadora, fiel ao passado, que foi seu mestre, desconfiada do futuro que não conhece, severa para com as ideias novas, cujos humores travessos a impacientam. Uma, brincando e esperando no dia de amanhã, como criança; outra, ralhando e suspirando pelo dia de ontem, como avó; uma, apaixonada do ideal e reparadora de tuertos, como D. Quixote; outra, odiando utopias, e contente com a ordem estabelecida de coisas, como Sancho. Em todos os campos da ciência humana se encontram, frente a frente, estas duas filas de contendores. Enquanto o método novo baseia raciocínios e assenta diagnósticos sobre recentes descobertas fisiológicas, o prático velho encolhe os ombros, sorri, formula ou opera; enquanto o jovem letrado desenvolve teorias de ciência social, vistas transcendentes de filosofia de direito; o jurista, encanecido no foro, examina os artigos do código, esmiúça a letra da lei, aconselha as partes e despacha os autos.