Uma Família Inglesa - Cap. 29: XXIX - Os amigos de Carlos Pág. 327 / 432

Não sei se deva aconselhar o meio como eficaz. Talvez seja mais prudente pensar com os olhos abertos para o mundo que nos rodeia, não o incluirmos como elemento nos nossos cálculos, corremos o risco de adoptar resoluções que mais tarde nos valham choques incessantes e dolorosos conflitos.

O pensar com os olhos fechados é só bom quando se trata de coisas puramente metafísicas; mas procurar assim regras de procedimento na vida é imprudente.

O resultado que produziu em Carlos este sistema de pensar foi a seguinte carta, que ele escreveu com vivacidade quase febril:

«Cecília.

Há dias recusou ouvir-me, quando o acaso me aproximou de si; não leve o rigor ou a desconfiança a ponto de desviar os olhos desta carta que escrevo, subjugado por uma necessidade irresistível, por uma violência do coração. Quando lhe falei com toda a sinceridade que inspira uma paixão veemente, Cecília tomou as minhas palavras por um simples galanteio e recusou escutá-las; e não haveria na minha voz alguma coisa a assegurar-lhe que eu não mentia? Como poderei esperar agora que seja mais eficaz esta carta, à qual não posso transmitir aquilo que se não traduz em palavras: o sentimento? Como a poderei convencer, Cecília? Se imagina sequer o respeito, a veneração que tenho pelo nome de minha irmã, não acreditará que possa mentir, invocando-o, ao afirmar-lhe que a amo, Cecília; se crê que a memória de minha mãe é para mim de tanta adoração e saudades, como as que se apoderavam do coração de Cecília e lhe transluziam no rosto, quando a vi ajoelhada no túmulo da sua, pela memória de minha mãe lho juro também. Que mais quer? Que mais exige? Não me julgue pelo passado; entre ele e a minha vida de hoje elevou-se uma barreira, no dia em que principiei a trazer a sua imagem no pensamento e o seu nome, etc.





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