, etc…»
Eu pouparei ao leitor a transcrição na íntegra desta carta, que prosseguia assim por mais algumas páginas e em estilo que, provavelmente, lhe deve ser familiar.
Carlos terminava por pedir a Cecília que lhe revelasse também o estado dos seus sentimentos. «Qualquer que seja a resposta, obrigar-me-á a um passo decisivo para o meu futuro», terminava ele.
Acabava de assinar, fechar e sobrescritar esta carta, e pensava na maneira de a enviar ao seu destino, quando ouviu um som de passos e de vozes, que cada vez parecia mais próximo, até que muitas, repetidas e violentas pancadas fizeram oscilar a porta do quarto, como se ameaçassem um arrombamento.
Carlos levantou-se em sobressalto, sem que lhe ocorresse logo a explicação de todo aquele ruído.
– Olá, santo ermitão – dizia uma voz pelo buraco da fechadura –, abri a porta a uns pobres romeiros, que de longe vêm, atraídos pela fama da vossa piedosa vida.
– Monsieur Charles – continuava a outra voz – las des soins d'ici bas, se retira loin du tracas, à maneira do rato da fábula que se penitenciava em um queijo; queira Deus que este também…
– Por causa de uma mulher recolheu-se Aquiles à tenda, abandonando os companheiros. Os invulneráveis têm estas fraquezas.
– Alto lá, a insinuação é grave ou, pelo menos, antecipada. Nada de condenar antes de ouvir.
– Abre, abre, Carlos; por ordem superior!
Carlos teve alguns momentos de hesitação.
A vozearia redobrava; repetiam-se, com mais violência, as pancadas na porta.
Resolveu-se, enfim, a abri-la.
Entraram. Eram os principais companheiros dos seus passados divertimentos, muitos dos quais já encontrámos naquele jantar da Águia de Ouro. Fartos de o aguardarem todas as noites, sem que em nenhuma de tantas o vissem aparecer, tinham resolvido procurar esse trânsfuga dos seus arraiais.