Uma Família Inglesa - Cap. 29: XXIX - Os amigos de Carlos Pág. 339 / 432

seu nome pronunciado, e daquela maneira, por lábios estranhos, ergueu-se com um movimento enérgico, cheio de orgulho e de dignidade revoltada, e, cobrindo-se-lhe as faces do rubor da indignação, disse, voltando para Carlos o olhar cheio de amargura:

– Em que lhe tinha merecido eu isto, senhor?

– Cecília!… – balbuciou Carlos, empalidecendo.

Foi ela a que desta vez, afastando-o com soberana altivez, caminhou para a porta em passo firme e seguro.

Carlos colocou-se diante dela.

– Que vai fazer? – exclamou com voz suplicante.

– Deixe-me! Menos de recear para mim é, ali fora, a presença dessa gente do que aqui a sua protecção generosa.

Esta última palavra saiu-lhe dos lábios quase expressiva de desprezo.

– Cecília, pois julga?…

– Ali pode haver crueldade, que nem as minhas lágrimas comovam; mas aqui… há pior… há a infâmia… que me feriu no coração.

E o tom comovido, com que disse isto, mostrava começar a dissipar-se já a energia de que se inspirara ao princípio.

À palavra «infâmia» Carlos deixou também o irresoluto embaraço que o enleara até então; tomando as mãos de Cecília e olhando-a em face, disse-lhe, tendo na voz toda a eloquência da sinceridade:

– Cecília, não há tempo agora para me justificar. Mas aceite-me um juramento. Pela memória de minha mãe, pela vida de meu pai, pela felicidade de minha irmã lhe juro que não mereço essas suspeitas.

Um hipócrita poderia pronunciar este mesmo juramento, mas não com o tom de persuasão e de verdade que a voz de Carlos possuía naquele instante.

Não se mente assim.

Cecília acreditou-o; todas as suspeitas que, por momentos, lhe haviam assombrado o espírito se desvaneceram.

Extinta a indignação, com a força fictícia que emprestara àquela natureza feminina, readquiriu o império perdido à brandura própria do sexo, que com razão nela confia, como na mais irresistível arma.





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