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Capítulo 34: XXXIV - Manuel Quintino alucinado

Página 388
Eu os guardo todos!

Sim, eu os guardo! Para homens e para crianças, ano após ano, uns de pesares, outros de alegrias, edifiquei essas casas que por aí jazem em torno, em cada recanto deste funéreo terreno. Mãe e pai, filhos e filhas, um por um, vieram acolher-se à minha solidão. Mas, ou estranhos ou parentes, venham! venham! que eu os guardo todos! Eu os guardo todos!

Sim, eu os guardo! Muitos estão comigo, e contudo eu estou só! Eu sou o rei dos mortos! Meu trono faço-o de um sepulcro de pedra ou de frio mármore, e o meu ceptro de comando é a enxada que empunho. Todos os homens são meus vassalos, quer cheguem da choupana, quer cheguem das salas; todos, todos, todos! Agitem-se embora na ânsia do prazer ou na ânsia do trabalho! Venham! venham! que eu os guardo todos! Eu os guardo todos!

Sim, eu os guardo! Seu leito final é aqui; aqui debaixo, no escuro seio da terra. – E o coveiro calou-se, porque o cortejo funeral passava silenciosamente naquela planície. E eu disse comigo: Ao findar dos séculos, uma voz, mais poderosa do que a desse velho coveiro, bradará mais alto do que o tremendo clangor da trombeta final: Venham! venham! que eu os guardo todos! Eu os guardo todos!»

Imagine-se o efeito que a voz do cantor, a música e a letra da canção produziriam depois de um jantar.

A música obrigava a repetir por mais de uma vez o estribilho final de cada estância no original.

– I gather them in, gather, gather, gather, I gather them in – cantava Mr. Morlays, com entonação que fazia lembrar um sino dobrando a finados.

Não se consegue estômago que ficasse imperturbado após uma sobremesa destas.

O cantor seguia com malignidade, verdadeiramente satânica, o efeito do canto sobre o acto visceral dos seus amigos.

Mr. Brains reprimia a custo a indignação que sentia.

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pág. 388 (Capítulo 34)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 388

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432