– Quem compra uma senha?!
– S. João! Quem quer?
– Doze vinténs, meus amos, doze vinténs.
Com estes e análogos pregões caiu um bando de negociantes de senhas sobre os recém-chegados da Águia, que trataram de obter bilhete da melhor maneira possível. Cedo entraram no salão do teatro, onde já centenares de pessoas morriam de calor, de asfixia e de tédio; e eram trilhadas, apertadas, esmagadas quase, aos encontrões dos máscaras, arrebatados num golpe vertiginoso.
O leitor, que todos os anos costuma saturar-se de fastio ali também, com boa vontade me dispensará de o constranger a repetir mais outra vez a operação, recordando essas horas de insipidez a que se sujeita, sob pretexto de gozar o Carnaval no Porto, e para fazer o que todos fazem – uma das mais poderosas razões dos nossos actos na vida.
Pedindo vénia por tanto tempo o haver demorado, em diversão fora dos seus hábitos, provavelmente mais pacíficos – o que fiz só por a necessidade que tinha de mostrar em acção o carácter do nosso herói e exemplificar o seu sistema de vida e sua companhia habitual –, concordo em que nos retiremos e vamos a cenas menos agitadas do que estas, que nem consolam, nem divertem.