Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro
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Subindo-lhe ao cérebro O mágico aroma, Esquece Mafoma, Huris e Alcorão. Longe, ó longe, o ópio, Que os sonhos deleita Da mísera seita Dos Theriakis! Horror ao narcótico Que vem das papoulas! E ao que arde em caçoulas, No altar do Caciz! Que a raça gentílica Das zonas ardentes Consuma as sementes Do arábio café. Despejem-se as chávenas Da atroz beberagem Da cor do selvagem Da adusta Guiné. E a tal folha exótica, Delícias da China, Por nossa má sina Trazida de lá, Servida em família, Num morno hidroinfuso?… Anátema ao uso Das folhas do chá! Nem tu, ó alcoólico Humor dos lagares, Terás meus cantares, Meus hinos terás. Embora das ânforas Vazado nas taças Aos outros tu faças A língua loquaz. Cerveja britânica, De furor espuma! De coisa nenhuma Me podes servir. Quando ouço do lúpulo Gabarem proezas, Às bocas inglesas, Desato-me a rir. Nem venha da cânfora Pregar maravilhas O das cigarrilhas Famoso inventor. Raspail é cismático E eu sou ortodoxo, O seu paradoxo Não me há-de ele impor. Meu canto é da América País do tabaco, Perante o qual Baco Seu ceptro partiu. A Europa, Ásia e África E a Terra hoje toda Este herói da moda De fumo cobriu. Até na Lapónia, Da gente pequena, Se fuma; e no Sena, No Tibre e no Pó, No Volga e no Vístula, No Tejo e no Douro; Que imenso tesouro Se deve a Nicot! Meus áridos lábios Mais fundos inda aspirem! Que os parvos suspirem! Por beijos, aos mil. Não quero outros ósculos, Não quero outra amante. Qual mais doudejante Que o fumo subtil? Tornadas Vesúvios, As bocas fumegam. De nuvens que cegam Vomitam montões. Fumar! Ó delícias! Prazer de Nababo! E leve o diabo Do mundo as paixões! – Bravo! – disseram quantos o escutavam, deveras entusiasmados com a musa do recitador.
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Páginas: 432
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