Uma Família Inglesa - Cap. 4: IV - Um anjo familiar Pág. 48 / 432

– Mas…

– Escute; se quiser tratar de sua irmã, traga-a para aí.

– Ó minha senhora…

– Prepare-lhe aquele outro quarto do mirante.

– Seja por amor de Deus…

– Olhe, Luísa – apressou-se a interrompê-la Jenny –, vá ver se me apronta aqueles punhos que eu lhe disse, vá.

– Vou já fazê-lo, minha querida senhora – disse a rapariga, a quem palpitava o coração alvoroçado de contentamento.

Nisto ouviram-se gritos agudos, desentoados, pungentes, que fizeram parar Jenny e assombraram-lhe a fronte serena de uma nuvem de tristeza. Vinham do andar superior aqueles gritos.

O criado, vendo-a parada a escutá-los, disse meio compungido, meio a sorrir:

– É a Sr.a Catarina; tem estado desde ontem tão impaciente!

– Pobre Kate! – murmurou Jenny, suspirando – e subiu com ligeireza as escadas que conduziam ao mirante.

Catarina ou Kate, segundo a familiar abreviatura inglesa, era uma criada octogenária, que tinha sido ama de Mr. Richard, e jazia agora, paraplégica e demente, num dos quartos da casa, vigiada com carinho pela família Whitestone e com impaciência, a custo reprimida, por os criados e criadas. Em certos dias os acessos da velha eram furiosos e as suas imprecações, em língua mestiça de português e inglês, e os seus gritos horripilantes punham em alvoroço toda a casa. Em momentos assim era difícil apaziguá-la; tão violentas gesticulações fazia, que poucos eram os braços para impedir-lhe que se maltratasse.

– Cães! – bradava ela agora, naquele estranho imbroglio linguístico, impossível de reproduzir aqui e que fazia rir as criadas que a seguravam. – Cães! Têm-me aqui presa! Querem matar-me à fome! à fome! Mas deixem estar que em vindo Dick… Ele há-de vir, há-de vir! Larguem-me! Dick! Dick! – Era o nome familiar que ela dava ainda a Mr.





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