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Capítulo 4: IV - Um anjo familiar

Página 47

– Pedro – chamou ela por fim, apoiando a mão no espaldar da cadeira destinada a Mr. Richard.

O criado, que andava no corredor, acudiu ao chamamento.

– Então onde pôs a mostarda?

– Ai! é verdade.

O criado correu ao aparador a buscar esse indispensável artigo da cozinha britânica.

– Veja como dobrou esse guardanapo.

O criado apressou-se a corrigir a imperfeição notada.

– Aquele pão não é o que o pai quer para os lunchs. Bem sabe.

– Tem razão, minha senhora.

O pão foi substituído com celeridade verdadeiramente inglesa.

– Desvie mais para o centro aquelas flores. Tão perto do fiambre não; chegue o prato mais para cá. Assim. Veja esse trinchador como ficou. Ficou pior agora. Assim. Ponha o Times aí ao lado. Está bom. Pode ir.

Ficando só, por suas próprias mãos deu ainda um jeito particular a tudo, atendendo a pequenas circunstâncias muito do agrado de Mr. Richard e de que só ela tinha conhecimento; necessidades pueris, mas necessidades afinal, e de que ninguém é isento. Correu as cortinas das janelas, para dar à sala aquelas meias-sombras discretas, tanto do gosto inglês, e voltou de novo ao corredor.

Alguns passos dados, veio a ela uma criada, ainda nova, com os olhos baixos e maneiras enleadas.

– Que tem, Luísa? – perguntou-lhe Jenny.

– Venho dizer adeus a miss Jenny, porque me vou hoje embora.

– Como vai embora? Quem a mandou?

– Ninguém, mas…

– Não está bem?

– Se estou, mas…

– Então?

– A miss Jenny sabe que a minha irmã estava a servir aí para fora da cidade. O trabalho era muito, coitada, e ela era tão fraca! Lidou quanto pôde, até que enfim caiu doente. Vai para casa da minha mãe. Mas como há-de tratá-la a pobre de Cristo? ela, quase entrevada e cega? Meus irmãos andam todo o santo dia por fora, e para pagar à enfermeira?… Quem pensa nisso? Assim, vou eu… e, quando ela se achar melhor, se a miss Jenny me quiser outra vez…

– A Luísa não pode de modo nenhum deixar-nos agora.

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pág. 47 (Capítulo 4)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 47

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432