– Pedro – chamou ela por fim, apoiando a mão no espaldar da cadeira destinada a Mr. Richard.
O criado, que andava no corredor, acudiu ao chamamento.
– Então onde pôs a mostarda?
– Ai! é verdade.
O criado correu ao aparador a buscar esse indispensável artigo da cozinha britânica.
– Veja como dobrou esse guardanapo.
O criado apressou-se a corrigir a imperfeição notada.
– Aquele pão não é o que o pai quer para os lunchs. Bem sabe.
– Tem razão, minha senhora.
O pão foi substituído com celeridade verdadeiramente inglesa.
– Desvie mais para o centro aquelas flores. Tão perto do fiambre não; chegue o prato mais para cá. Assim. Veja esse trinchador como ficou. Ficou pior agora. Assim. Ponha o Times aí ao lado. Está bom. Pode ir.
Ficando só, por suas próprias mãos deu ainda um jeito particular a tudo, atendendo a pequenas circunstâncias muito do agrado de Mr. Richard e de que só ela tinha conhecimento; necessidades pueris, mas necessidades afinal, e de que ninguém é isento. Correu as cortinas das janelas, para dar à sala aquelas meias-sombras discretas, tanto do gosto inglês, e voltou de novo ao corredor.
Alguns passos dados, veio a ela uma criada, ainda nova, com os olhos baixos e maneiras enleadas.
– Que tem, Luísa? – perguntou-lhe Jenny.
– Venho dizer adeus a miss Jenny, porque me vou hoje embora.
– Como vai embora? Quem a mandou?
– Ninguém, mas…
– Não está bem?
– Se estou, mas…
– Então?
– A miss Jenny sabe que a minha irmã estava a servir aí para fora da cidade. O trabalho era muito, coitada, e ela era tão fraca! Lidou quanto pôde, até que enfim caiu doente. Vai para casa da minha mãe. Mas como há-de tratá-la a pobre de Cristo? ela, quase entrevada e cega? Meus irmãos andam todo o santo dia por fora, e para pagar à enfermeira?… Quem pensa nisso? Assim, vou eu… e, quando ela se achar melhor, se a miss Jenny me quiser outra vez…
– A Luísa não pode de modo nenhum deixar-nos agora.