Uma Família Inglesa - Cap. 5: V - Uma manhã de Mr. Richard Pág. 60 / 432

Agora como que sentia vergonha de ter a sua afeição resistido inteira ao delito filial, e de não lhe restar já no coração força bastante para reprimir as expansões dela.

– Aí está – dizia Mr. Richard a Jenny, procurando com um tom sacudido tirar às palavras a menor sombra de afecto. – Se quiseres, podes dar isso a teu irmão. Para ele é que eu o destinava, se ontem…

Jenny tomou o relógio das mãos do pai, a quem agradeceu com um sorriso de ternura.

Mr. Richard prosseguiu:

– Que eu não sei se Carlos o quererá; ainda que é objecto de preço…

– O maior preço é ser uma lembrança sua, senhor.

Mr. Richard resmoneou um monossílabo inglês e ensaiou um gesto de inveterado cepticismo, que não lhe saiu muito expressivo.

Jenny acrescentou:

– E de mais preço ainda, se das suas próprias mãos o recebesse.

– Queres talvez que vá acordar Carlos, para que me faça o favor de aceitar as minhas prendas? – perguntou o pai com certo azedume.

– Mas se… logo ao jantar…

– Talvez não nos dê a honra de nos fazer companhia.

– Oh! se Carlos soubesse…

– Nada, nada. Entrega-lho tu, se quiseres.

E, dizendo isto, saiu da sala, atravessou o jardim e dentro em pouco tempo transpunha o portão da rua.

O criado, que o encontrou no corredor, ouviu-o murmurar ainda:

– Parece muito mal.

Mas, chegando à rua, já ia aparentemente satisfeito. Caminhava com a rapidez peculiar ao povo para o qual o tempo é dinheiro, dirigia ao favorito Butterfly frases de cordial afecto e trauteava por entre dentes o popular – Cheer, boys, cheer!…





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