É mau costume.
E saiu da sala para o gabinete.
Jenny acompanhou-o.
– E demais nem tanto custa – dizia ele ainda, pelo caminho.
Enfiando o sobrecasaco e aceitando das mãos de Jenny o chapéu e a bengala, continuou no mesmo tom:
– Dá lugar a que se diga… a que se repare…
Calçando as luvas de pelica cor de cana, por uma esquisitice patriótica mandadas vir de Inglaterra directamente, resmoneou ainda:
– Não sei que custe muito estar alguns minutos no escritório. E, passado um momento:
– É feio, é feio.
Parecia, enfim, disposto a sair, mas Jenny, costumada a observá-lo, descobria-lhe certa hesitação, como se se travasse nele uma luta entre duas resoluções encontradas.
– Até logo, Jenny – dizia Mr. Richard, mas sem acabar de partir.
– Não sei o que me esquece! – murmurou depois com manifesta perplexidade.
Jenny correu os olhos pelo quarto.
– O lenço? – perguntou, oferecendo-lhe um que vira sobre o toucador.
– Ah! o lenço, sim… o lenço…
Era evidente que não estava satisfeito ainda.
– Agora… não me falta nada; adeus.
Jenny julgou que desta vez sempre iria.
– Ah! sim – continuava ele, parando novamente.
Jenny fitou-o com olhar interrogativo.
– Não sei o que… Ah!… Então… então Carlos… não se levanta esta manhã?
– Se quer que o chame?
– Não, não… É que…
E depois, interrompendo-se:
– Não é nada.
– Deseja que lhe dê algumas ordens?
– Não… mas… Enfim, o que é tem tempo.
– Mas diga; Charles não deve tardar a erguer-se…
– É que…
E Mr. Richard, com certo modo embaraçado, aproximou-se da secretária, abriu-a e tirou de lá um magnífico relógio de corrente, de construção inglesa, objecto que expressamente havia encomendado de Londres para presentear o filho no dia dos anos dele.
A ausência de Carlos, na véspera, impedira-lhe realizar o afectuoso intento.