– O Carnaval! Muito divertidos devem ser esses bailes de máscaras, para assim te atraírem, Charles!
– Enganas-te, Jenny; são insípidos, mas… Tu não podes talvez entender isto, que não obstante é exacto… são insípidos, mas irresistíveis ao mesmo tempo.
– Ora!
– Acredita-me. Rara é a noite em que me não encho de tédio, em que não morro de sensaboria no meio daquele infernal tumulto, e então, se de lá me lembro de ti, do sossego dos teus serões, do silêncio das tuas noites, do teu bonito quarto cor de violeta, pergunto a mim mesmo, Jenny, por que me conservo longe dali, o que me afasta das portas desse paraíso, voluntariamente perdido por este louco, que nem merece ser teu irmão. Sinto vontade então de soltar uma lamentação como a de Eva por errar num mundo, que ao pé do teu, Jenny, é também obscuro e selvagem; por estar a respirar num ar bem menos puro. – Não é assim que diz o Milton? – E contudo não tenho nenhum arcangélico poder a impor-me a expatriação. Vês?
– Estás a gracejar, Charles?
– Acredita que não. Outros te poderiam dizer o mesmo se…
– E é isso que te conservou por lá, ainda hoje, até às quatro horas da manhã?
– Hoje? Ah! Mas… perdão, Jenny; tudo tem suas excepções. A noite de ontem, por exemplo, não me deixou desagradável memória de si; devo confessá-lo.
– Então?
– Então… é que eu tenho que te contar, e se tiveres a paciência de me escutar e prometeres não me ralhar muito…
– Ah! Pois temos culpas?
– Eu sei? Desconfio tanto de mim, que já me não atrevo a afirmar que procedesse bem. Mas tu o dirás.
Jenny sorriu.
– Ouçamos – disse ela, preparando o almoço, que um criado acabava de trazer para a sala.