– Para o lado esquerdo?
– Justamente; para o lado esquerdo.
– E… e o que achaste desse lado do coração, Charles? – perguntou Jenny, sorrindo.
– Ai, Jenny! ai, minha pobre irmã! prepara a tua santa paciência, que aqui venho eu confiar-te mais uma das minhas paixões.
– Eu logo vi; não sei por que foi que to estava a ler no rosto. Então é deveras uma paixão?
– Receio que sim.
– Pobre Charles! Que fatalidade!
– Estás a rir? – disse Carlos, sorrindo também e estendendo a chávena para a encher outra vez. – Ora ouve. Ao meu lado esquerdo, do lado do coração, como dizes, estava um dominó feminino, fitando-me de uma maneira… como nem te sei dizer… e com uns olhos… mal sabes que bonitos olhos eram aqueles, Jenny!
– Os da máscara? – perguntou Jenny, preparando a chávena.
– Não; os da mascarada, os quais eu percebia através das aberturas oculares da elegante máscara de cetim preto que ela trazia. A cabeça descaía-lhe ligeiramente sobre o ombro em postura de tanta languidez e melancolia, e nesta posição a seda da máscara descobria-lhe um canto de lábios e um princípio de colo tão bem modelados, que eu não pude desviar mais dali o olhar extasiado, e… e… Então que quer dizer agora esse teu sorriso, Jenny?
– Estou a admirar a rapidez com que te apaixonas e extasias.
– É que não imaginas que bonito contorno o daquele rosto; não imaginas! Eu digo-te uma coisa, Jenny; bem sei quantas ilusões andam ligadas à máscara de seda, que, por descuido estudado, se afasta um pouco, o preciso… o conveniente… Porque na maior parte dos rostos há pequenos pontos fracos, que a máscara artificiosamente oculta, deixando só aparecer as perfeições.