– Mas, já que te repugna essa ociosidade, por que não trabalhas deveras?
– Porque não é costume. O trabalho é para o guarda-livros. Nós somos uma espécie de padrinhos; damos o nome à criança e pagamos-lhe o enxoval, mas não nos encarregamos das fadigas da sua educação. Contudo, já uma ou outra vez tentei trabalhar, por descargo de consciência; mas lembrança minha era saudada com uma risada do Manuel Quintino e com o riso mal disfarçado dos outros caixeiros. Pelos modos era disparate certo.
– Pois bem; por isso mesmo que tão pouco se exige de ti é que devias ser mais assíduo.
– Mas é tão monótono! Fazes lá ideia! Odeio aquela Rua dos Ingleses, Jenny; abomino-a.
– E preferes mortificar o pai, que já hoje se queixou das tuas faltas, quando um pequeno sacrifício…
– Não lhe chames pequeno; mas, grande que seja, estou resolvido a fazê-lo para te agradar. Amanhã…
– Amanhã! – disse Jenny, encolhendo os ombros.
– Pois então? Queres que já hoje?…
– E por que não?
– Mas vê que já é tarde…
– Mais tarde será se te demorares.
Carlos emudeceu.
– E ao mesmo tempo – prosseguiu Jenny – aproveitaria a ocasião de mandar saber daquela pobre viúva inglesa que há já tantos dias não aparece.