Uma Família Inglesa - Cap. 7: VII - Revista da noite Pág. 79 / 432

lembram-se de me comunicar o princípio de certo negócio, do qual se julgam depois tão dispensados de dizer-me o resultado, como eu de perguntar por ele; amanhã, dar-me-ão parte da conclusão de outro, cuja existência eu ignorava ainda. Ora aqui tens como eu sou comerciante. O pai gosta de me ver lá em baixo, como representante da firma Whitestone & C.a, e mais nada. Chego ao escritório, abro a janela, mostro-me ao público, como uma espécie de tabuleta da casa, dou três passeios na praça, converso em tudo, menos no negócio, e venho embora. Se isto é trabalhar…

– Mas, já que te repugna essa ociosidade, por que não trabalhas deveras?

– Porque não é costume. O trabalho é para o guarda-livros. Nós somos uma espécie de padrinhos; damos o nome à criança e pagamos-lhe o enxoval, mas não nos encarregamos das fadigas da sua educação. Contudo, já uma ou outra vez tentei trabalhar, por descargo de consciência; mas lembrança minha era saudada com uma risada do Manuel Quintino e com o riso mal disfarçado dos outros caixeiros. Pelos modos era disparate certo.

– Pois bem; por isso mesmo que tão pouco se exige de ti é que devias ser mais assíduo.

– Mas é tão monótono! Fazes lá ideia! Odeio aquela Rua dos Ingleses, Jenny; abomino-a.

– E preferes mortificar o pai, que já hoje se queixou das tuas faltas, quando um pequeno sacrifício…

– Não lhe chames pequeno; mas, grande que seja, estou resolvido a fazê-lo para te agradar. Amanhã…

– Amanhã! – disse Jenny, encolhendo os ombros.

– Pois então? Queres que já hoje?…

– E por que não?

– Mas vê que já é tarde…

– Mais tarde será se te demorares.

Carlos emudeceu.

– E ao mesmo tempo – prosseguiu Jenny – aproveitaria a ocasião de mandar saber daquela pobre viúva inglesa que há já tantos dias não aparece.





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