Uma Família Inglesa - Cap. 7: VII - Revista da noite Pág. 78 / 432

– Olha se queres que retire ainda o perdão que já te dei. Que mais terás a pesar-te na consciência? Aproveita o ensejo desta minha disposição benévola.

– Julgo que não tenho mais nada.

– Aí está uma alma com excelente opinião de si! Visto isso, tens cumprido todos os teus deveres?

– Mas… deveres de que género?

– Que pergunta! Pois não sabes os deveres que tens?! Maus indícios! Deveres de cristão, de cidadão, de filho e de…

– O que aí vai! o que aí vai! Por quem és, Jenny! vamos por partes, senão…

– Pois bem, quero falar-te agora só de uns, que me parece teres descurado um pouco.

– Fala.

– Diz-me: tens ido ao escritório?…

– Ai, o escritório! – disse Carlos, rindo. – Então era disso que me querias falar? Bem longe estava eu de pensar no escritório.

– Tens lá ido?

– Eu não.

– Não!

– Há já bastante tempo que lá não vou, há… mas… achas isso grande pecado?

– E pergunta-lo? Não é o trabalho um dever?

– O trabalho será.

– Então…

– É que faz sua diferença. Tu não sabes como eu trabalho no escritório? É outra dessas imposturas sociais, que me fariam rir deveras, se não fossem tão fastidiosas. É preciso que saibas, minha boa Jenny, que no escritório o trabalho real, o trabalho útil, o trabalho-trabalho está encarnado na pessoa de Manuel Quintino. Esse sim. É quem ali faz tudo, quem a tudo dá solução, e parece-me que o único até capaz de o fazer. Exige-se que eu vá lá também, não para trabalhar; a minha cooperação o mais que faz é impacientar o bom do homem, distrair os outros caixeiros e alterar a ordem metódica dos papéis comerciais. Eu vou só para fingir que entro naquelas coisas, para representar de comerciante, embora não penetre em nenhum dos segredos ou transacções em que anda empenhada a firma. Hoje





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