Havia grande actividade na larga rua chamada dos Ingleses, à hora a que o filho de Mr. Richard Whitestone ali chegou.
A vida comercial estava então no seu auge; numerosos grupos ocupavam os passeios, o centro da rua e os portais das velhas casas que de um e de outro lado a limitam. Presta-se a curioso estudo o aspecto da Praça em ocasião assim.
Nas posturas, no ademã e em várias outras exterioridades dos diferentes indivíduos que compõem estes grupos, pode-se encontrar indícios da posição comercial que eles ocupam.
Vêem-se homens de aspecto grave, de movimentos pausados, de palavras medidas e espremidas, escutadas, aqui e além, por um auditório atento, mudo, boquiaberto, cujas cabeças, balançando-se, como as dos bonecos de porcelana, comentam com movimentos de aprovação as palavras destes oráculos; são directores de bancos, ou de companhias comerciais de outra qualquer natureza, bem ou mal reputadas, as primeiras capacidades da Praça; os accionistas, sempre inquietos pelo futuro dos capitais, meditam cada palavra deles, como as de uma mensagem de Napoleão III, na abertura do parlamento francês.
Mais longe, passeiam, com ar de quem está confiado em si, outros que não escutam os primeiros, mas que os saúdam com fraternal familiaridade. Não têm tão numeroso cortejo a rodeá-los, porém são igualmente cumprimentados por todas as cabeças da Praça; chamam aos lábios das pessoas a quem se dirigem um sorriso de afabilidade, e obrigam-lhes o tronco à inclinação expressiva de acatamento, pouco diferente da da eloquência persuasiva, a qual, segundo um escritor humorista, é representada por um ângulo de 85,5° com o horizonte. – São estes os negociantes que não administram capitais alheios, mas que dispõem de grandes capitais próprios; de quem menos directamente depende, portanto, a numerosa turba dos pequenos capitalistas, mas cujos destinos influem, mais ou menos, sobre os de toda a Praça.