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Capítulo 8: VIII - Na praça

Página 82
Além disso têm a fazê-los valer o prestígio da riqueza, prestígio que se impõe até aos que nada esperam dela.

Observa-se às vezes um espectáculo, à primeira vista de difícil interpretação. Um homem, humildemente vestido, de aspecto triste, de cabeça baixa e barbas crescidas, é escutado com ansiedade na roda dos mais esplêndidos membros do corpo comercial; todos parecem esforçar-se por não perder a menor palavra das poucas sumidas que o tal homem pronuncia. De vez em quando, ele murmura não sei que frase e limpa uma lágrima, e os outros levantam as mãos ao céu, cruzam os braços, encolhem os ombros, coçam a cabeça, dão uma volta, como a distrair mágoas, e tornam a acercar-se dele, como se fosse o centro de atracção daqueles elementos dispersos; e toda a cena se reproduz de novo. Que quer dizer isto? – É um negociante falido de pouco e rodeado de credores, a quem, na sua humilhação, domina e que de quando em quando apavora, calculando com voz dolente o diminuto dividendo que lhes concederá. Não há posição social, situação na vida, por mais abjecta e precária que pareça, que não tenha a sua aristocracia. Os ladrões têm os monarcas conquistadores; os homicidas, os duelistas e guerreiros; a pobre, a oprimida, a miserável classe dos devedores, tem os grandes negociantes falidos.

O olhar exercitado em estudar a fisiologia da Praça talvez possa distinguir do negociante, cujos pagamentos ainda em época alguma foram suspensos, aqueles cujas remotas fracturas têm sido miraculosamente consolidadas pelos dotes das esposas. Mas a segurança e franqueza de maneiras é tão igual nas duas espécies, que à nossa análise não é possível a discriminação.

A contrastar com todos estes, vê-se uma turba, igualmente numerosa, agitar-se na Praça, sempre

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pág. 82 (Capítulo 8)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 82

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432