Em certo ponto surgiu diante de nós uma enorme gruta, escavada num pitoresco conjunto de rochedos cobertos de todas as algas da flora submarina. A princípio a gruta pareceu-me extremamente escura. Os raios solares pareciam difundir-se por gradações sucessivas e a sua vaga transparência não passava de luz filtrada.
O Capitão Nemo entrou nela e nós o acompanhamos. Os meus olhos se acostumaram rapidamente àquelas trevas relativas e distingui os assentos da abóbada, de contornos caprichosos, suportada por pilares naturais assentes numa base granítica, como pesadas colunas de arquitetura toscana. Por que nos conduziria o nosso incompreensível guia ao fundo daquela gruta?
Depois de termos descido uma vertente bastante acentuada, os nossos pés pisaram o fundo de uma espécie de poço circular onde o capitão se deteve e apontou para um objeto que eu não tinha notado. Era uma ostra de dimensões extraordinárias. Aproximei-me daquele gigantesco molusco. Estava preso a uma mesa de granito e ali se desenvolvia isoladamente nas águas calmas da gruta. Calculei o peso daquela ostra em cerca de trezentos quilos, tendo um recheio de quinze quilos. Era evidente que o Capitão Nemo já conhecia a existência dela.
Não era a primeira vez que ele a visitava. Enganei-me ao pensar que, conduzindo-nos àquele local, o capitão pretendesse apenas nos mostrar uma curiosidade natural. Ele tinha um interesse especial em verificar o estado da ostra.
As duas valvas do molusco estavam entreabertas. O capitão aproximou-se e introduziu o punhal entre as conchas para impedi-las de se fecharem.